– Aaaahhhhh!
O grito estridente de uma garota chegou aos ouvidos deles.
– É a Mimi! – Jou gritou alarmado. Mas, por não ter coragem de tomar a iniciativa, ele se virou para Taichi e Yamato ao invés disso, e perguntou hesitante. – O-o que vocês acham que aconteceu com ela...?
Ao invés de respondê-lo, Taichi correu em disparada. Ele tinha ouvido o grito de Mimi reverberando à direita deles – a direção do oceano.
– Espera, Taichi!
– Taichi!
Sora e Koushiro correram atrás dele. Yamato correu um pouco depois porque fez Takeru subir em suas costas primeiro.
–Ah... Esperem! Eu vou também! – Por fim, Jou se juntou ao grupo, ficando na retaguarda.
Mimi, com um pequeno Digimon que parecia um bulbo de planta em seu encalço, estava correndo da esquerda das crianças para a direita deles.
– Qual o problema? – Taichi perguntou quando, de detrás de Mimi, veio um 'vrrrmmmm' seguido por uma rajada de vento que fez todas as folhas no chão se espalharem.
– O que foi esse som? – Sora perguntou, ao que Koushiro respondeu imediatamente: – Olha lá! Tem algo no céu!
As folhas das árvores mais altas dificultavam ver o que era, mas o grito de Mimi continuou.
–Eu não sei o está havendo ali, mas nós temos que salvá-la – Usando as pernas que ele valorizava tanto, Taichi correu atrás de Mimi. Sora correu perfeitamente ao lado dele, mantendo o ritmo. Claramente, serem a grande dupla de que o clube de futebol de Odaiba tanto se vangloriava não era apenas da boca pra fora. Koushiro fez seu melhor para acompanhar atrás deles, enquanto o peso adicional de seu irmão em uma das pernas atrasava Yamato, deixando uma boa distância entre ele e Koushiro. Jou estava ainda mais atrás.
– Aaahhhhhh!
Agora as crianças podiam ver Mimi. Talvez ela tivesse ouvido as vozes dos outros e deixado de correr por aí sem rumo, ou talvez ela só estivesse correndo aleatoriamente pela floresta e só por acaso aconteceu dela vir na direção deles, mas qualquer que fosse o caso, ela estava vindo até Taichi e os outros à toda velocidade e...
– Ah – Taichi e os outros gritaram. Finalmente estava claro para eles o que estava atrás de Mimi: um besouro-pinça inacreditavelmente gigante com o corpo de cor vermelha brilhante que quase feria os olhos. O barulho ensurdecedor e as rajadas de vento eram causadas por suas asas enormes.
– É um monstro besouro-pinça – Koushiro gritou.
Perto dele, Mochimon corrigiu: – Não! Aquele é Kuwagamon! – mas suas palavras foram abafadas pelo zumbido barulhento das asas do monstro.
– Nãaao! – enquanto Mimi corria, ela podia ouvir o estalo da madeira conforme o enorme besouro partia os galhos com suas pinças enquanto se aproximava por trás dela.
– Cuidado!
O monstro mastigava alto como se estivesse testando sua mordida - abrindo e fechando a boca - se aproximando até Mimi quase pudesse sentir suas pinças afiadas a tocando. E então, dessa vez as pinças se abriram largamente para a mordida final e o monstro gritou em antecipação triunfante, antes que Sora corresse até Mimi e a derrubasse ao chão. Elas evitaram a morte por um triz: tão perto que elas estavam que o som das pinças se fechando no ar encheu dolorosamente os canais auditivos de Sora, um som metálico como se dois martelos batessem um no outro.
Depois de olhar para cima para ter certeza de que o monstro tinha voado para longe, Sora virou a cabeça para Mimi e perguntou: – Você está bem?
Ambas tinham folhas secas e lama grudadas em suas roupas e cabelos. A própria Mimi não parecia acreditar que ainda estava viva, e se jogou nos braços de Sora, explodindo em lágrimas assustadas.
– Tudo bem, tudo bem – Sora disse suavemente enquanto acariciava o longo cabelo de Mimi. – Você está segura agora.
Mas... – Está vindo pra cá de novo! – Yamato alertou. Bem alto lá nos céus, as crianças podiam o monstro besouro-pinça manobrando em retorno e mergulhando na direção deles de novo.
– O que nós fazemos? – Jou perguntou a Taichi com um pânico selvagem em seus olhos. Inconscientemente, Jou sentiu que Taichi era alguém de quem ele podia depender.
– O que...? – o próprio Taichi não tinha um plano. Seu desejo de acabar com o monstro antes que ele os matasse era forte, mas ele não tinha ideia alguma de como fazer isso.
– Nós não temos armas para nos defender... – Koushiro ponderou, avaliando a situação.
– Então o que? – Jou tremeu de medo enquanto seus olhos se fixavam no monstro besouro-pinça se aproximando deles.
– Vamos correr! – Yamato sugeriu. O peso de Takeru em suas costas o fazia escolher ser passivo, desde que ele pudesse manter o irmão em segurança.
– Tudo bem, vamos correr! – Frustrado por não poder pensar em outra opção, Taichi concordou.
Vrrrmmmm… vrrrmmmm…
O monstro besouro continuava a atacar as crianças, mas sempre que ele avançava, elas se espremiam contra a sujeira mergulhavam na grama espessa, mal escapando com vida.
Mesmo assim, elas não sabiam se poderiam continuar correndo para sempre. No momento em que elas se cansassem, seria o momento exato que elas se tornariam comida de besouro. Por mais que elas quisessem acreditar que seus pequenos eus tinham mais resistência que o monstro, elas não podiam.
BOOM! As pinças atingiram uma rocha mais sólida e, Vrrmmmm..., o som das asas diminuiu.
– Isso, ele se foi!
As crianças cuidadosamente saíram da sombra da rocha atrás da qual estavam escondidas (a metade da frente tinha sido destroçada em vários pedaços pelo ataque anterior do monstro).
– Se ao menos houvesse uma caverva por aqui... – Yamato sussurrou. Se virando para olhar Tsunomon, ele perguntou: – Você conhece alguma?
Tsunomon balançou a cabeça, parecendo se desculpar sinceramente. – Não, sinto muito.
– Er, não é sua culpa... – Foi Yamato quem acabou se sentindo envergonhado pelo problema.
– De qualquer modo, nós não deveríamos ficar parados aqui. Vamos nos apressar e sair daqui – Jou disse se levantando. Ele tinha finalmente se recuperado do pânico de ver o monstro pela primeira vez e, de novo, sentia a responsabilidade sendo o mais velho e o líder do grupo.
As crianças zarparam dali mais uma vez. Tokomon estava de costas deitado no chapéu de Takeru, então podia ficar de olho no que acontecia atrás do grupo. Então ele gritou 'Está vindo de novo' e Taichi, que estava na dianteira, parou de repente.
– Ah, droga!
As crianças viram o que o parou. O que estava no caminho deles não era mais uma estrada, mas um penhasco íngreme.
– Podemos descer isso? – Sora perguntou ao olhar da borda. Abaixo deles estava uma selva espessa e escura que os fazia pensar na Floresta Amazônica, com um riacho que serpentava como uma cobra. Nem mesmo adultos, quanto mais crianças, poderiam descer aquela altura catastrófica.
– Está vindo! – Tokomon gritou, exibindo as presas ferozes que ninguém teria esperado, dada sua aparência fofa.
– Chega! – Mimi gritou com lágrimas correndo pelas bochechas.
Como se respondendo a um sinal invisível, os Digimons que tinham acompanhado as crianças esse tempo todo começaram a se afastar. Eles refizeram seus passos para de onde tinham vindo, se arrastando ou saltando, ou se movendo com seus pés pequenos.
– O que? O que houve, Koromon? – Taichi perguntou, confuso. – Se vocês vão nos deixar, ao menos nos digam aonde vocês vão!
– Nós nunca vamos deixar vocês – Koromon disse, olhando apra trás. Sua para tinha um olhar trágico de determinação.
Koromon e os outros Digimons passaram pela retaguarda das crianças (era onde Yamato e Takeru estavam) e se alinharam lado a lado como se fossem jogadores de futebol formando uma barreira para bloquear um tiro direto ao gol.
– Vamos proteger vocês, Taichi!
Dizendo essas palavras resolutamente, Koromon lançou um olhar afiado para o monstro besouro. Seus olhos brilhavam com o espírito do desafiado que tinha aceitado o desafio enfim.
– Parem! Não!
Taichi e os outros virariam suas caras para longe se pudessem. Mas a preocupação levara a melhor sobre seus medos e eles mantinham o olhar firme.
Era óbvio que aqueles pequenos Digimons não eram páreos para aquele enorme monstro besouro, mas ainda assim eles o desafiaram para a batalha. Primeiro, Koromon e os outros lançaram o que pareciam ser bolhas se suas bocas. Talvez essas bolhas fossem extremamente ácidas, porque o monstro inexplicavelmente perdeu o equilíbrio e suas pinças caíram ao chão. Sem dar uma pausa, Koromon e os outros mantiveram a pressão com seu ataque.
Mas uma vez que o monstro se recuperou e assumiu a posição, os vários contra-ataques que ele lançou contra os Digimons menores com sues seis membros, asas rígidas e presas afiadas causaram duas ou três vezes mais danos do que eles tinha causado.
As crianças não podiam mais assistir àquilo.
– Por que? Por que vocês indo tão longe para nos proteger?
Sem sequer soltar um gemido quando o mosntro besouro o lançou violentamente contra um grande tronco de árvore, Koromon imediatamente saltou mais uma vez contra o inimigo. O que dava força a Koromon era seu propósito determinado e o desejo de proteger Taichi. É claro, os outros Digimons – Tsunomon, Pyocomon, Mochimon, Tanemon, Pukamon e Tokomon – sentiam o mesmo.
Taichi e os outros podem não entender, mas nós sempre estivemos esperando por eles. Nós sonhamos que, quando eles viessem, nós faríamos muitas coisas juntos. Nós devemos lutar, então esses sonhos podem se tornar realidade. E nós devemos vencer. Não há como nós deixarmos esses sonhos serem destruídos num lugar assim.
Mas nós sabemos o quão fracos nossos corpos são. Há um muro de probabilidades esmagadores diante de nós. Nós não podemos escalá-lo com nossa força física, nossas habilidades ofensivas, ou mesmo nossa força de vontade.
Nós queremos poder. Nós queremos ser mais fortes, muito mais fortes.
Taichi gritou: – KOROMON!
Yamato: – TSUNOMON!
Sora: – PYOCOMON!
Koushiro: –MOCHIMON!
Mimi: – TANEMON!
Takeru: – TOKOMON!
E até mesmo Jou gritou: PU-PUKAMON!
E foi quando sete feixes de luz desceram dos céus e cobriram seus Digimons.
– O que é isso?
Por um segundo, as sete crianças perderam seus Digimons de vista com o brilho da luz.
– Não pode ser...
Mas no instante seguinte, Digimon de nível Criança que tinham realizado a 'evolução' (ou digievolução), apareceram diante delas.
– Koromon digivolve para Agumon! Chama Neném! – um dinossauro cor de creme com a forma de um pequeno dinossauro disparou uma baforada de fogo.
– Tsunomon digivolve para Gabumon! Fogo Pequeno! – um Digimon parecido com um lobo de pé sobre duas patas cuspiu uma bola de fogo.
Pyocomon digivolve para Piyomon! Furacão Espiral! – um Digimon pássaro rosa disparou uma espiral de fogo místico.
– Mochimon digivolve para para Tentomon! Mini Trovão! – o ataque elétrico do Digimon joaninha vermelho parecia um relâmpago.
– Tanemon digivolve para Palmon! Hera Venenosa! – um Digimon verde com uma pena vermelha na cabeça esticou as mãos, que se tornaras heras que envolveram o inimigo.
– Tokomon digivolve para Patamon! Bolha de Ar! – um Digimon que parecia um hamster com grandes orelhas inflou as bochechas o máximo que podia e disparou uma bola de ar.
– Pukamon digivolve para Gomamon! Peixes Marchantes! – por último, um Digimon que parecia exatamente uma foca gritou, chamando um grande número de peixes de diferentes cores que voaram pelo ar de lugar nenhum.
Diante de um ataque incomparável com o anterior, o besouro-pinça pareceu recuar. Fosse por ter dificuldade agira ou por simplesmente desistir, ele abriu as asas e se foi.
– O-o que acabou de acontecer?
Embora aliviadas além da compreensão, as crianças não tinham a menor ideia do que estava acontecendo. Koromon e os outros tinham desaparecido e, no lugar deles, sete Digimons desconhecidos com ferimentos no corpo estavam olhando para elas.
– Koromon está morto! – Taichi lamentou. as outras crianças se juntaram a ele em pranto.
Mas um dos Digimons recém-chegados – o pequeno dinossauro cor de creme que parecia amigável e feroz ao mesmo tempo – riu e sorriu bem-humorado para Taichi e disse isso:
– Eu sou Koromon. Mas agora que eu digivolvi, eu me chamo Agumon.
Esse foi o começo das aventuras deles. Dessa maneira – compartilhando risos e lágrimas, encorajamento mútuo, e disputas momentâneas pelo caminho – as crianças e seus Digimons partiram em uma longa, longa jornada.