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quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Digimon Adventure - Capítulo 2.2: A Mansão Enganosa



A noite estava chegando quando as crianças alcançaram o pé da montanha. Todo mundo achava que elas tinham tirado a sorte grande quando Taichi descobriu a casa dentro da floresta. Todos estavam cansados até os ossos e mesmo seus Digimons, que aparentavam nunca se esgotar, pareciam desabar de cansados depois de digivolverem.
Quando o grupo chegou à casa, descobriu que era mais apropriado chamá-la de mansão ou de um pequeno castelo: era uma casa de tijolos de estilo europeu com três andares que parecia saída de um filme. 
Olhando de baixo, até mesmo as janelas do sótão pareciam estar em cômodos. Abrindo a pesada porta da frente, eles entraram em um largo corredor iluminado por um candelabro magnífico. Já era de se esperar, mas o que pegou todos de surpresa e os fez se correr inquietos para a sala de jantar foi o cheiro de comida deliciosa que pairava até eles. Depois de comer o comida meio cozida e frutas lavadas dia após dia na ilha, o cheiro de comida fresca fazias os olhos de todos se arregalarem. A mesa estava repleta de pratos que certamente não pareciam saídos de um filme.
Tinha até um banheiro meio ao ar livre e cheio de água quente transbordando. Essa casa de banhos pública era o único lugar que parecia tão fora de lugar naquela arquitetura ocidental ao redor que os pensamentos de Koushiro voltaram mais uma vez à teoria de um parque temático.
O mais desconcertante disso era que apesar de todas as preparações que devem ter sido feitas para uma recepção calorosa dessas, não havia uma única figura humana à vista.
Todavia, as crianças não tinham tempo para se incomodar com isso. Depois de encherem os estômagos com comida que realmente parecia a comida a que estavam acostumados, elas pularam nas banheiras para lavar a sujeira e a areia das raízes de seus cabelos.
Havia oito camas ao todo no grande quarto no terceiro andar. Os lençóis eram macios e limpos, como se tivessem acabado de ser lavados, e as camas eram grandes o bastante para que até um adulto médio coubesse nelas, então cada criança e seu respectivo parceiro subiram para dormir juntos.
Desde que as sete crianças chegaram àquela ilha, essa era a primeira vez que elas tinham sentido confortavelmente satisfeitas assim. Por um tempo depois de se enterraram sob os cobertores, suas conversas animadas continuaram.

– Me pergunto como papai e mamãe estão.
Nas palavras de Mimi, a ansiedade de todo mundo retornou. 
– Faz uma semana, né? Desde que viemos pra cá – Taichi sussurrou.
– Me pergunto se eles realmente sabem que estamos aqui – Sora disse, como se esperasse uma confirmação para o que Koushiro tinha especulado mais cedo.
– Bem, não podemos ter certeza disso – Koushiro disse, – Afinal, esse lugar é...
Yamato fez um barulho alto ao se cobrir com um cobertor, interrompendo as palavras de Koushiro.
– Mesmo se nós falarmos sobre isso agora, nós não vamos resolver nada. Podemos especular até nos cansarmos e ainda não vamos descobrir como nossos pais estão ou onde nós estamos. Ao invés de nos preocuparmos com isso, deveríamos dormir, então estaremos descansados para amanhã.
– Sim, eu concordo – Jou disse tirando os óculos e os colocando ao lado da cama. Nem mesmo Gomamon ou os outros Digimons, que estavam rindo animadamente com eles momentos antes, podiam quebrar o silêncio pesado.
– Mamãe...
Todo mundo ouviu Takeru murmurar em seu travesseiro. Ele podia até estar chorando. Aquela única palavra calou as bocas de todos e eles puxaram os cobertores sobre si.
Taichi percebeu uma coisa. Yamato sabia que Takeru ficaria triste uma vez que eles começassem a falar sobre seus pais, então ele fez todo mundo parar logo antes que eles piorassem as coisas.
Ao olhar os dois irmãos loiros dormindo em camas separadas perto dele, Taichi pensou em quando eles chegaram ao acampamento. De primeira, ele não sabia que os dois eram irmãos. Até onde ele sabia, Taichi sempre acreditou que Yamato era filho único. Apenas depois de chegarem à ilha é que ele descobriu que o garoto mais novo desconhecido era irmão de Yamato.
E foi ainda depois disso que ele aprendeu que os pais deles tinham se divorciado e separaram os dois vivendo em áreas diferentes. Depois que Yamato disse isso a ele, Takeru foi atacado por um Digimon dragão e Yamato arriscou a vida para salvá-lo (agindo mais imprudentemente do que qualquer um normalmente esperaria dele), acabando por ser aquele em perigo. Foi quando Gabumon, que dormia perto de Yamato agora, se transformou, ou melhor, digivolveu em um grande lobo e...
Espera um minuto. Acho que eu perguntei uma vez a alguém se Yamato tinha irmãos, mas a pessoas desviou da pergunta. Foi Sora?
Enquanto ponderava sobre seus pensamentos, Taichi sentiu sua pálpebras caírem pesadamente conforme ele se sentia mais e mais sonolento. Ele podia se sentir a ponto de apagar quando ele foi acordado por uma voz.
– Taichi – Agumon sussurrou para ele. – Eu preciso ir ao banheiro.

Eles tiveram que descer as escadas para chegar aos banheiros no segundo andar.
Taichi esperou impacientemente Agumon terminar seus negócios enquanto ele esperava no corredor que se conectava a outro. Era estranho que os únicos banheiros estivessem localizados ali naquela grande construção, mas Taichi estava mais preocupado com outras coisas no momento.
– Que droga, ao menos vá ao banheiro sozinho – Taichi resmungou e olhou para o corredor.
Uma grande lua estava brilhando do lado de fora, sua luz caindo através das janelas e caindo em uma pintura pendura mais ao fim do corredor.
– Huh?
Taichi notou que algo sobre ela estava diferente de quando o grupo chegou lá mais cedo.
– Não devia ter uma foto de um anjo aqui?
Dentro da grande moldura banhada pela luz pálida, havia uma pintura de um anjo ajoelhado diante de algo enquanto fazia uma oração. Ele se lembrou de Takeru e Patamon, que a tinham visto primeiro, exclamando que era uma imagem bonita e a olhando por um bom tempo.
Mas agora a pintura estava...
– Está toda preta.
Nada estava desenhado na tela da moldura. Embora a luz brilhava sobre ela, ela era de um preto sombrio, como se uma mão gigante se estendesse e rasgasse a tela fazendo um buraco retangular.
Taichi tentou se inclinar sobre o corrimão do corredor para ver melhor, mas recuou rapidamente alarmado. O corrimão desmoronou com seu peso, mesmo embora fosse feito de madeira grossa e parecesse firme. Por que ele desmoronaria como se...
Mas não, mesmo agora o corrimão estava desmoronando como se estivesse podre.
Acostumando seus olhos à escuridão, Taichi olhou em volta e viu que tudo na mansão estava em ruínas. Quando a luz laranja do sol do início da noite estava brilhando mais cedo, tudo parecia deslumbrante... mas agora o lugar inteiro estava coberto com uma grossa camada de poeira. Ele podia até ver as pegadas que o grupo tinha deixado pra trás naquela tarde. Era como se mil anos tivessem passado desde que eles entraram no quarto.
– Isso é...
As crianças tinham visto estranhas desde que chegaram à ilha, mas nunca algo assim.
Foi então que uma voz ecoou de algum lugar dentro da mansão sombria.

– Parece que você notou.

A voz soava como se estivesse vindo de muito longe, embora, ao mesmo tempo, Taichi sentisse que era sussurrada em seu ouvido. Dentro das profundezas silenciosas da mansão, ele só conseguia sentir o mal se espalhando. Se a escuridão tivesse uma voz, com certeza seria uma voz como aquela.
– Se você tivesse só dormido quieto, você teria morrido sem saber de nada.
– Quem está aí? – Taichi gritou.
A escuridão não respondeu. Ao invés disso, Taichi ouviu a voz de Agumon de dentro do banheiro.
– Taichi!
Ouviu-se o som de um golpe pesado que ecoou pelo corredor. Agumon tinha aberto a porta grossa com um baque surdo, seu corpo voando pelo corredor. De dentro, Taichi pôde ver a sombra de uma forma grande humanoide.
– Gwehehehe – era o demônio verde que eles tinham encontrado na Montanha Infinita. Girando seu tacape, ele esmagou a porta pesada do banheiro em pedaços.
– Agumon – Taichi arrastou Agumon para perto. Seu pequeno corpo tinha sido acertado por aquele tacape?
– Digivolva, Agumon! – Ele segurou seu Digivice, mas o aparelho não reagiu.
– Tachi, eu não posso... não sinto qualquer força.
O demônio verde agora estava de pé bem diante de seus olhos. Taichi não tinha ideia do que estava acontecendo, mas ele tomou uma decisão rápida: ele tinha que voltar para seus amigos. Carregando Agumon nos braços, ele se virou para correr, mas parou imediatamente. Abaixo, nos degraus para o terceiro andar, estava uma sombra sólida e inabalável. Era Leomon.
– As Crianças Escolhidas devem morrer.
Leomon sacou sua espada. Taichi e Agumon estavam encurralados em ambos os lados do corredor.
– Por que você não consegue digivovler, Agumon?
– Nada saiu quando eu fui ao banheiro – era mesmo estranho – Como se eu não tivesse comido nada...
– Mas você comeu muito!
Aquela voz que veio das sombras falou outra vez: – Era tudo uma ilusão... Eu tinha planejado ao menos colocar vocês pra dormir antes de matar vocês.
Soou como se estivesse vindo do lado oposto do corredor, conectando com o outro maior. Assim que Taichi virou os olhos para tentar olhar melhor dentro das profundezas da escuridão do corredor sombrio, a escuridão disse:
– Esse sonho acabou.
E assim que a voz falou, o telhado, as paredes e o piso da mansão se estilhaçaram em pedaços. Taichi podia ver o céu noturno, a floresta e a Montanha Infinita em volta dele. A mansão que parecia tão resplandecente, agora parecia ter sido destruída há mais de centenas de anos. Nenhuma parte dela estava em boas condições. Tacihi estava de pé nas ruínas do corredor.
Não muito depois, Tacihi percebeu que seu estômago estava roncando e seu corpo se sentia rígido com a sujeira. A comida e os banhos deviam ter sido uma ilusão assim como a mansão.
Não era de se espantar que Agumon não podia digivolver.  Ele não tinha forças o bastante.
O corredor de onde a voz da escuridão vinha só tinha a maior parte do corrimão pairando em perigo de se desiquilibrar. Com a floresta iluminada pela lua ao fundo, uma sombra humanoide se ergueu acima daquele corrimão.
– Quem é você? – Taichi encarou. A sombra parecia ter ficado toda negra. O que deixava claro que a sombra não era de um humano eram os braços extremamente longos que estavam dobrados na frente dele e as asas de morcego que brotavam de suas costas.
Sua boca se abria por baixo da máscara quando ele falava: – Meu nome é Devimon. Aquele a quem foi confiado o cumprimento da missão das Trevas.
Lentamente ele desdobrou seus longos braços e os esticou para cima. Tacihi podia ouvir gritos vindo do quarto. Com espanto, ele se virou e viu camas voando acima dele no ar.

Yamato e os outros acordaram com um estranho som que eles nunca tinham ouvido antes. Quando eles perceberam que era o som do telhado e das paredes da mansão desaparecendo, o céu estrelado acima deles já estava se alargando diante de seus olhos. Quando tentaram sair das camas, eles viram que o piso era cheio de buracos. Um passo em falso e as crianças passariam pelo piso e cairiam três andares.

Enquanto o grupo se perguntava o que fazer, as camas de repente se ergueram no ar. Conforme se agarravam às cabeceiras das camas, elas se inclinaram diagonalmente e se moveram em ângulos estranhos. Era como se as crianças estivessem em uma montanha-russa sem cintos de segurança e precisassem de toda a força para impedi-las de ser derrubadas.
– Takeru! – Yamato gritou tentando identificar entre a dança selvagem das camas qual delas pertencia a seu irmão. Takeru estava se agarrando à cama com toda sua força.
– Eu tô bem, irmãozão.
Mesmo Patamon, com sua habilidade de voar parecia indefeso contra a velocidade da cama. Ele também estava se agarrando com sua vida.
– Por que você não pode digivolver? – Ele ouviram Sora gritar.
Embaixo, eles podiam ver os restos da mansão onde estavam dormindo pacificamente só alguns minutos atrás. Em uma parte do corredor estavam o demônio verde, Leomon e um demônio negro desconhecido, todos cercando Taichi e Agumon. Leomon estava se aproximando de Taichi com a espada erguida sobre a cabeça.
Não havia nada que as crianças pudessem fazer.
– Taichi!
Quando parecia que Taichi seria cortado em dois, algo mudou. Yamato viu uma luz deslumbrante perfurar repentinamente a escuridão, mas ele não conseguia dizer que ela vinha do dispositivo na mão de Taichi.
A próxima mudança que aconteceu foi o que despertou em Leomon quando a luz o alcançou. A mão segurando a espada parou no meio do movimento, ele começou a balançar a cabeça para frente e para trás, como se estivesse tentando se livrar de algo. Algo negro começou a sair de suas costas.
– É uma engrenagem! Como eu pensei, Leomon está sendo controlado por uma engrenagem negra! – Gabumon gritou. Yamato ainda não conseguia acreditar que algo tão simples assim tinha trazido Leomon de volta ao normal, mas quando a luz parou, Leomon encarou a sombra negra que parecia um demônio.
Trazendo a mão direita, que não segurava a espada, para frente de si numa postura de luta, Leomon socou o ar diante dele com um grito alto. De seu punho surgiu uma massa de ar quente escaldante com a forma da cabeça de um leão, que avançou até a sombra demoníaca com um rugido feroz.
O demônio abriu as asas de voou pelo ar para evitá-lo. O corrimão em que ele estava se desintegrou junto com o corredor ao qual ele estava conectado.
As camas voando se endireitaram abruptamente, como se o controle de alguém sobre elas tivesse se perdido, e elas começaram a se mover suavemente pelo ar. Todas as oito camas se separaram em diferentes direções. A cama de Takeru voou para mais e mais longe da visão de Yamato.
Uma das duas camas vazias mergulhou de repente como se perdesse o senso de destino. De sua visão periférica, Yamato viu que ela estava indo na direção de Taichi, e quando ele achou que a cama passaria direto por ele, Leomon agarrou ambos Taichi e Agumone os jogou na cama. Sem perder altitude, a cama continuou a cair em direção ao nível da água.
– Leomon salvou o Taichi...
Foi a última coisa que Yamato conseguiu ver. Ele não sabia o resultado da luta deixada entre Leomon, o demônio verde e o demônio negro.
As camas das crianças voaram noite a fora até caírem em áreas separadas da terra.



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