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sábado, 21 de outubro de 2023

Digimon Seekers 2.8 - Hacker Leon: Voo 626 da WWW Airlines Parte 8


Hackers e crackers. No fundo, não há diferenças entre os dois.

A grosso modo, crackers são apenas hackers que estão dispostos a cometer crimes. Eles tem menos problemas éticos em violar a lei. Crackers são hackers malvados.
Tem sido assim desde os primórdios da Rede, muito antes da descoberta do Mundo Digital. Aqueles que trabalham para impedir que crackers cometam crimes são coloquialmente conhecidos como hackers justos.

"Crackers são realmente tão impopulares?"
Eiji disse, quase por reflexo. Ele se arrependeu imediatamente.
"Quer dizer, minha escola e universidade definitivamente tinham clubes para esse tipo de pessoa. Eles tendiam a atrair crianças deprimidas ou tipos realmente perigosos, sem ninguém no meio. Quero dizer, eles são basicamente um canal de recrutamento para o submundo do crime, certo?"
A colega mais jovem de Hatsune poderia muito bem ter esfaqueado Eiji no peito com uma faca.
"Claro, mas suponha que um decifrador de código ficasse rico?"
"Havia um grupo bastante popular no campus que atraía algumas garotas, mas não é como se houvesse futuro nisso de qualquer forma", ela disse, casualmente julgando Eiji.
Ela e Hatsune então pediram licença, não querendo atrapalhar o reencontro de Eiji e Leon.

Os Digimons hololizados se despediram deles.
"Bem, eles pareciam legais! Não é, Loogamon?"
"Quem te impressionou mais? Para mim, era colega da Hatsune"
"Minha doce Hatsune! Eu adoraria que Hatsune cuidasse das minhas costas a qualquer hora"
"Você pensa?"
"Confie em mim. Estou falando por experiência própria".
"Como vocês dois são tão bons em se dar bem com qualquer pessoa?”,Eiji suspirou desanimado.
Por que eles estavam envolvidos nesse tipo de conversa? Os Digimon não tinham sexos ou gêneros biológicos, em sua maior parte.
"O que te deixou deprimido, Eiji?" Loogamon perguntou.
"Ele provavelmente acabou de perceber o quão impopulares os crackers são", Pulsemon entrou na conversa.
"Não há necessidade de ser tão direto sobre isso, Pulsemon", Leon repreendeu.
Entretanto, era tarde demais. O ânimo de Eiji já havia sido feito em pedaços.

No fundo, ele sabia que o trabalho de cracker não era glamoroso. Que as pessoas tinham uma visão esmagadoramente negativa disso. Que crackers eram muito impopulares.
Leon olhou para Loogamon e Pulsemon e soltou uma leve risada.
"Não deveríamos chamar os Digimons de programas com IA", ele começou.
"Eh? Do que você está falando?" Eiji disse preguiçosamente.
"Devíamos chamá-los de formas de vida de IA. Veja como nossos parceiros Digimons criaram uma confiança mútua. Isso significa que os Digimons provavelmente podem fazer amizade entre si", Leon respondeu, olhando amorosamente para os dois Digimons à sua frente.
"Fazer amizade um com o outro, hein..."
"Você acha que eles podem, Eiji?"
Eiji estudou o rosto de Leon. Não era o olhar de alguém melancólico falando de coisas nostálgicas, ou de um estudante universitário discutindo paixões ou o que quer que seja.

Seria esse o rosto de seu alter ego, Judge?

Eiji optou por responder da perspectiva de um decifrador de código.
"Até recentemente, sempre pensava neles como ferramentas. Desde que me tornei um cracker".
"Naturalmente. Essa foi sua única interação com o Mundo Digital, imagino".
"Sim, não posso negar isso. Mas desde que consegui o Digimon Linker e conheci Loogamon, tudo isso mudou minha perspectiva".
"E desde que você conheceu o professor Ryusenji?"
"Sim, isso só mudou ainda mais. Entrar em Link Mental com Loogamon e podermos conversar entre nós... Loogamon tem toda uma história. Todos esses Digimon têm vida, sabia? Assim como Pulsemon, assim como você e eu, ou qualquer outra pessoa".
Se Loogamon podia construir um relacionamento com outros, e não apenas com Eiji, bem...
Isso era mais uma prova de que eles eram formas de vida, não programas, cada um com suas próprias personalidades e peculiaridades.
"Então, Eiji... O que é Loogamon para você agora?"
"Ele é meu parceiro. Meu amigo. Para o resto da vida", disse Eiji sem hesitação.
"Bom", disse Leon, relaxando a mandíbula. "Você não perdeu completamente sua alma para os crackers, então".
"O que você quer dizer com isso?"
"Não vou adoçar as coiss pra você, Eiji – Você precisa parar com essa bobagem de cracker. Quero que você corte qualquer relação com aqueles criminosos que abusam dos Digimons, Eiji".

Finalmente, a verdadeira razão pela qual Leon concordou em ter essa pequena reunião entrou em foco. Ele sabia que isso aconteceria, mais cedo ou mais tarde.

Os hackers não suportavam os crackers, e o que os hackers consideravam justiça não deixava espaço para a liberdade que os crackers queriam desesperadamente proteger.

"Deixar de ser um cracker? Isso não vai acontecer", Eiji disse categoricamente, provocando um grunhido irritado e óbvio descontentamento de Leon.
"Também não vou adoçar isso para você: tenho inveja de você. Você não só está estudando no exterior, como também está em uma universidade de prestígio como a  Universidade de Engenharia Elétrica e de Computação de Tóquio. E seu trabalho de meio período é no LDD, pelo amor de Deus! Então me perdoe se estou um pouco hostil ao ouvir isso de você!"
Eiji também nunca foi bom em equívocos.
Não se Leon fosse ser tão brutalmente honesto ao tentar fazer Eiji desistir, empurrando sua visão perversa de justiça para outro ser humano.

"O que você quer dizer com isso?" Leon sentiu que havia algo mais por trás dessa explosão.
Escute, cara, comecei com o trabalho de cracker só para sobreviver. Se eu largar, vou trabalhar em um péssimo emprego de meio período por um péssimo salário. Eu tenho 19 anos! Estou no mundo real com responsabilidades reais, e esse tipo de trabalho simplesmente não vai servir para mim".
"Você não foi para a faculdade? O Eiji de que me lembro sempre teve resultados de testes pelo menos tão bons quanto os meus".
"Onde, A Universidade de Tóquio? Inferno, eu tirei B em um dos exames simulados. Achei que conseguiria", disse Eiji com um suspiro.
"Aconteceu alguma coisa?"
Um pouco de preocupação surgiu no rosto de Leon quando ele fez a pergunta. Eiji finalmente teve a chance de assumir o controle da conversa e não iria deixar passar. Ele só queria que fosse sobre qualquer coisa, menos isso.

"O Vôo 626 da WWW".


Eiji disse suavemente.
Leon engasgou e depois ficou em silêncio.
"Então você conhece a história. Olha, eu não quero falar sobre isso".
"O Voo 626 da WWW Airlines", interrompeu Pulsemon. Ele começou a ler a data, mas estava distorcida e irreconhecível, talvez devido à redação. Pulsemon continuou: “O voo partiu de Tóquio antes de fazer uma mudança de rota não autorizada em sua trajetória de voo. O tráfego aéreo perdeu todo o contato e o avião acabou caindo no Oceano Pacífico. Todos a bordo foram mortos; o número de passageiros registrados chegava a três dígitos. A caixa preta nunca foi encontrada".
O Digimon então puxou uma série de entradas de enciclopédias online sobre o incidente para tornar as coisas um pouco mais fáceis para Leon.
"Qual foi a causa do acidente, Pulsemon?"
Eiji perguntou incisivamente.
"Embora não tenha sido oficialmente reconhecido, a teoria predominante sugere que o acidente foi um causado por um Digimon", respondeu Pulsemon.
A tal 'teoria predominante' foi amplamente divulgada entre hackers e crackers bem informados.
"Você... você perdeu seus pais naquele voo?" Leon perguntou cuidadosamente.
"Sim", disse Eiji, balançando gentilmente a cabeça para Loogamon.
Eiji pensou no pequeno altar do seu apartamento de um cômodo. Ele não tinha contado os detalhes da causa da morte de seus pais a Loogamon.

Leon parecia um pouco abalado agora, desde a menção do voo 626.
Ele havia encontrado os pais de Eiji diversas vezes, quando eles foram brincar juntos no rio. Eles não eram mais passageiros sem rosto naquele voo.
"Seus pais estavam naquele voo... Mas... por quê?"
"Foi uma viagem para comemorar as bodas de prata. Uma viagem para a América, apenas o casal, enquanto o filho ficaria em casa", disse Eiji, cansado.
Ele notou algo estranho; Leon parecia prestes a soltar algum tipo de barulho, mas abafou-o no último momento.
A morte de seus pais o tinha chocado na mesma medida quando aconteceu? Ele realmente não se lembrava de ter tido tempo para coisas como choque, entre tudo mais.

Na verdade, esta foi a primeira vez que ele tirou isso dos recônditos de sua memória, ainda mais falar com alguém sobre isso.

"Eu não tinha ideia do que estava acontecendo...", Eiji disse rouco, sua voz tremendo enquanto ele lutava contra as lágrimas. "A casa estava toda hipotecada com fiador anexado. As apólices de seguro de vida dos meus pais... Vendi a casa e foi aí que percebi que tudo tinha acabado. Faculdade? Isso não era mais uma opção".
Eiji vivia em um mundo diferente e agora tinha traçado uma linha clara entre ele e Leon.
"Não havia nenhuma bolsa de estudos?"
"Hmm... não. Eu estava muito arrasado. Meu coração tinha se quebrado. No meu estado mental, eu não conseguia trabalhar, muito menos estudar".
Se Leon pensasse que isso era um sinal de fraqueza, Eiji o desafiaria a dizer isso.
"Mas, se você perdeu seus pais em um ato de crime com Digimon – supostamente – como você poderia continuar a ser um cracker?"
Leon estava visivelmente tremendo agora, mas sua mente ainda seguia a linha de raciocínio de um hacker.
"Que pergunta estúpida! Os Digimon não são os criminosos; as pessoas que os forçaram a cometer o crime são. Digimon são apenas ferramentas para crackers, e eu não os uso para tirar vidas humanas", disse Eiji calmamente.
Leon ficou sentado em silêncio.
“Estou fazendo isso para ganhar a vida. Não estou orgulhoso disso! Eu não tinha outra escolha. Mas o professor Ryusenji, ao tomar conhecimento do meu trabalho, me deixou orgulhoso dele pela primeira vez em muito tempo. Você o admirou e trabalhou com ele ainda mais tempo do que eu. Você, entre todas as pessoas, deveria entender como isso é incrível".

O professor Ryusenji esperava grandes coisas de Eiji, o que lhe provou que este era o caminho certo - e talvez o único - para ele.

"Eiji, que tipo de trabalho você está fazendo para o Professor? Tenho certeza que é  mais do que apenas criar o Loogamon, certo?", Leon perguntou baixinho.
"Não tenho permissão para dizer", respondeu Eiji. Ele tinha que manter isso confidencial.
"Mas você está no FdC, então mesmo que você não diga eu tenho meus palpites. Olha, Eiji, eu..."
"Pode parar aí mesmo", Eiji disse, levantando a palma da mão no ar na frente do rosto de Leon. "Se mantivermos contato, acho que vou acabar te contanto tudo enfim".

Leon ainda era um amigo querido de Eiji, para quem parecia que não havia passado nenhum tempo desde que estavam na escola juntos.
Mas ninguém pode viver no passado para sempre.
"Está na hora, Eiji", disse Loogamon, com as orelhas em alerta.
"Oh sim. Eu tenho que ir; é hora da minha reunião com o Professor Ryusenji", disse Eiji, levantando-se da mesa.
"Com o Professor?"
"Sim! Coisas de cracker! Boa sorte com todos os estudos e tudo mais. Vejo você por aí e espero que possamos pular as coisas pesadas e complicadas da próxima vez. Talvez durante uma bebida, quando nossos aniversários chegarem?"
Pulsemon fez um 'Até mais!' gesticulando para Loogamon e Eiji enquanto eles se levantavam de seus assentos.
"Claro, vamos fazer isso".
"Aqui, isto é para você", disse Pulsemon, e entregou algo a Loogamon.
"O que é?" Loogamon perguntou, aceitando mesmo assim. Parecia um pacote de arquivos compactados no formato .box.
"É um presente! Te vejo mais tarde! Talvez na Favela do Muro. Eu quero um tour pessoal pelo Castelo dos Nove Lobos algum dia!", Pulsemon cantou enquanto Eiji e Loogamon se afastavam.




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