quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Digimon Tamers 1984





Digimon Tamers 1984 é um conto referente à terceira série de animação da franquia Digimon, escrito pelo roteirista da temporada Chiaki J. Konaka, com ilustração de Kenji Watanabe, designer de vários dos monstros da franquia e designer chefe da WIZ Inc. O conto foi publicado na SF Japan, revista japonesa de ficção e fatos científicos.


O conto, situado nos anos 80, narra a história do Bando Selvagem, grupo que criou as formas de vida artificias que futuramente viriam a ser conhecidas como Digimon. A história serve como uma pequena prequela para a temporada Digimon Tamers.





Digimon Tamers 1984




Era o comecinho de outubro, mas o ar estava tão frio que já parecia meados do inverno. Mesmo nascida e criada na área da baía, ela não conseguia se acostumar com o clima de Palo Alto.

Enquanto empurrava o carrinho pelo estacionamento do shopping em direção ao carro, ela percebeu que tinha esquecido de comprar os suprimentos que sua colega de quarto Jackie tinha pedido. Querendo voltar para o carro o mais rápido possível para escapar do vento, ela parou no meio do estacionamento, incerta do que fazer.

Foi quando um velho Dogde acabado e chacoalhando parou em frente a ela.

"Ei, você é a Daisy, não é?"

Um jovem japonês, ou talvez chinês, sorriu para ela simpaticamente.

"Não me chame assim. Eu nem te conheço, então não tenho certeza de por que eu devia atender por um apelido que eu nem mesmo gosto".

"Ah, me desculpe. Sou Janyu Lee, do Centro de Pesquisa McCoy. Você pode me chamar de Tao. Todo mundo me chama assim".

McCoy? Rob McCoy, aquele eterno hippie?

Ela estava surpresa. Esse ingênuo homem asiático nem de longe se parecia com a imagem que ela tinha de um associado do Professor McCoy.

"Tudo bem, Tao. E eu assumo que você quer algo de mim".

"Claro. É por isso que eu estava procurando por você".

"Procurando por mim?"

A razão pela qual Tao estava procurando por ela era para pedir a ela que se juntasse a eles no centro de pesquisa do Professor McCoy.

Tudo que ela sabia sobre o Professor McCoy era o rumor de que no Ensino Médio ele tinha passado o tempo com seu ídolo John C. Lilly e os golfinhos no Havaí. Por um lado, sua pesquisa era completamente fora do campo dela.

A única razão pela qual ela concordou em só falar com eles era porque ela tinha sido atraída pelo jeito ingênuo de Tao. Mas logo ela aprenderia que ele já era casado com uma mulher japonesa. O Centro de Pesquisa McCoy era uma cabana em forma de L não muito longe do campus da universidade. Foi para lá que ela foi na tarde seguinte.

Aparentemente, o edifício ainda estava em processo de ser convertido em um centro de pesquisa. Nem o computador central nem os terminais estavam arrumados. Caixas de documentos não organizados tomavam cada centímetro quadrado do piso.

"Daisy! Você veio!"

Um sorriso afetuoso surgiu no rosto de Tao ao vê-la. Havia alguns outros estudantes lá também. Tinha Babel, um cara negro magro que tinha acabado de começar a faculdade, e Curly, uma mulher indiana fabulosamente linda. Aparentemente também havia um estudante japonês envolvido no projeto.

Cada um tinha foco em uma área diferente. A de Babel era física teórica, a de Curly era teoria quântica, e da de Tao era linguagem de comunicação. E quanto à própria Daisy, ela estava estudando software e robótica. Seu apelido veio da canção de Hal 9000, aquela IA mais famosa, cantada em seus últimos momentos.

A única coisa que eles tinham em comum era que nenhuma de suas disciplinas era muito convencional. Então por que diabos todos eles estavam reunidos ali? Sua curiosidade estava irritada.

Quando o Professor McCoy em pessoa finalmente chegou, ele não era nada como ela esperava. Ele usava muitos termos hippies, mas não estava usando uma camiseta caleidoscópica tingida, nem fez um sinal de paz quando ela se apresentou.

Falando com ele, ela descobriu que ele tinha estudado com Lilly aqui, não no Havaí, e o próprio McCoy nunca tinha tocado um golfinho. Mas ainda o chamavam de Dolphin.

"Esses apelidos fazem parecer que vocês estão numa gangue ou coisa assim".

"Talvez sim, mas seremos a gangea mais quente em Palo Alto", o cara magro, babel, disse se alongando.

"Fazendo o que?"

"Nós estamos tentando construir um novo mundo".

"Huh...?"

Curly apenas a encarou em silêncio, seu longo e lindo rabo de cavalo preto balançando ligeiramente.

Um novo mundo? Ela queria dizer algum tipo de simulação?

McCoy -- Dolphin -- foi quem respondeu.

Sim, eles estavam fazendo simulações de construção de um mundo, mas o que era único quanto a esse projeto era que esse novo mundo seria na Rede. E as "criaturas" que eles estavam tentando criar eram inteiramente originais.

Criar vida através de inteligência artificial. A primeira sociedade baseada em IA surgiria em 1987. A equipe de McCoy foi formada três anos antes disso.

Daisy achou difícil se dar bem com ele, diferente de Tao. Ele tinha cabelo na altura da cintura e raramente mostrava emoção. Ele era taciturno e às vezes falava para si mesmo em frases enigmáticas.

Tudo com o que ele parecia se importar era em monitorar o mundo na Rede do mundo exterior. Ela não sabia quem tinha lhe dado o apelido, mas ele era chamado "Shibumi". Ela pensou vagamente que isso significava algo como "zen".

Não levou muito tempo para ela fazer amizade com os outros e ela logo percebeu o que precisava fazer.

"Criar vida não vai ser fácil. Embora o Deus verdadeiro não tenha tido tanto problema, eu acho".

O jovem grupo -- o Bando Selvagem, como eles se chamavam -- discutiu o progresso e suas metas enquanto comiam comida chinesa.

Eles tinham uma imagem vaga de criaturas digitais, mas não conseguiam descobrir de fato o que vida verdadeiramente original seria.

Shibumi estava sentado um pouco mais afastado dos outros, mastigando o macarrão frito, quando disse de repente, "Eu pensei em todos os tipos de monstros de quando eu era criança".

"Monstros? Como o Godzilla ou coisa assim?"

"Não. Bem, isso também. Esse tipo de coisa sempre passava na TV".

"Acho que crianças são boas com esse tipo de coisa".

Dolphin, que estava ouvindo silenciosamente, se levantou de repente e foi até o telefone.

"Sou eu. Keith está em casa? Ah, ele ainda está na escola. Claro, sim. Quando ele chegar em casa... Não, eu vou pra casa agora".

"O que foi, Dolphin?"

Com um sorriso envergonhado, Dolphin pegou uma foto em sua mesa e mostrou para os outros. Uma olhada em Keith e ficou óbvio que ele era filho de Dolphin.

"O que vocês acham de pedir ao Keith para criar alguns designs para nós?"

"Boa ideia. Uma criança não vai ficar presa a o que vida artificial deveria ser e será capaz de criar algo novo e único".

"Monstros -- isso realmente é o que nós estamos tentando criar".

E então as formas de vida artificiais que o Bando Selvagem estava tentando criar vieram a ser chamadas de Digimon -- Monstros Digitais".

O filho de dez anos de Dolphin desenhou alegremente Digimon seguido de Digimon. Ele era um jogador entusiasta e agrupou os Digimons de acordo com seus atributos, dando-lhes até níveis numéricos para suas habilidades e força vital.

Considerando que a vida artificial inicial como os autômatos celulares de von Neumann e o Jogo da Vida de Conway vieram de jogos de computador, Dolphin achou que era natural que os Digimons deveriam utilizar aspectos de personagens de videogame.

Olhando para os desenhos de Keith, Tao notou que eles poderiam ser divididos entre antes e depois da puberdade. Keith provavelmente não pretendia que fosse desse jeito, mas Tao notou que os Digimons poderiam herdar as características de suas formas anteriores à medida que cresciam.

Ele insistiu que o termo Evolução era essencial para esses Digimons, essas formas de vida artificiais que eles estavam tentando criar, e ele se jogou de cabeça nisso criando um algoritmo.



"Mas se nós incluirmos os elementos necessários para a evolução, não vai ficar pré-planejado demais?"

 "Sim, Tao. Tudo tem uma causa e um efeito".

"Eu concordo que tem que haver uma fundação, mas não acho que a evolução de um Digimon tem que ser apenas sobre carregar um oponente, absorver seus elementos e ficar maior".

"Tudo que podemos fazer é dar a eles formas e ações básicas. Não sei se isso pode ser chamado de vida, mas precisa de algo. Só não sei o que".

Shibumi, que estivera trabalhando em silêncio em um dos computadores e de costas para os outros, falou sem se virar. "Entelequeia¹".

Todo mundo olhou surpreso para ele.

"O que é isso?"

"Acho que tem algo a ver com Aristóteles. O que você quer dizer com isso, Shibumi?"

"Quero dizer. Estamos falando de forças externas dando vida a algo sem vida. Não há necessidade de incluí-la dentro dos Digimons para começar. Há muito disso nesse mundo".

"Nesse mundo?", com um sorriso amargo, Tao olhou para a expressão distante de Shibumi. "Digimons só podem viver no mundo deles. Eles não tem nada a ver com o mundo real".

Shibumi permaneceu em silêncio.

O resto do grupo retornou à pesquisa.

Enquanto Daisy dava conselhos a Tao, ela continuou a trabalhar em seu próprio projeto, que era encontrar uma interface entre o mundo real e a Rede.

No ideal dela os Digimons existirem era algo como a proposta do Dynabook de Alan Kay (um computador portátil, para usar a terminologia de hoje). Algo completamente sem fio, que poderia acessar a Rede e receber informação a qualquer momento. A imagem original do Dynabook de Kay tinha crianças pequenas usando eles num campo aberto.

Devia ser algo simples, que mesmo uma criança pequena poderia usar, mas Daisy pensava mais como algo que representasse a inocência de uma criança ao descobrir o território da Rede.

Ela chamou sua interface de Arca². Ela queria algo que deixasse você sentir como se estivesse dentro da Rede ao invés de apenas olhando de fora.

Eventualmente Dolphin veio com o programa central dos Digimons, o DigiNúcleo, e Digimons primitivos nasceram nos computadores do Bando Selvagem.

No começo do verão de 1985, um dos terminais do laboratório de Dolphin foi montado para exibir o mundo dos Digimons. A essa hora, os experimentos do Bando Selvagem tinham começado a atrair a atenção de estudantes e professores, e agora eles começavam a aparecer no laboratório para ver o que estava havendo.

Os Digimons ainda não eram nada mais que códigos representados por pontos. Mas eles já eram autônomos, mostravam desejo de viver, e batalhavam corajosamente contra aqueles que eram maiores que eles mesmos.

Foi aí que as espécies diferentes ganharam nomes. As regras eram simples: uma palavra que descrevesse cada um era encurtada e então o sufixo -mon, de monstro, era adicionado ao final. Agumon, Leomon, Devimon, etc. É claro que foi Keith que veio com a ideia.

A casa de Dolphin ficava a cerca de dois quarteirões de distância do centro de pesquisa, mas ele tinha cabos que iam do laboratório até um terminal em sua casa (é claro que isso era ilegal), então ele poderia monitorar os Digimons de lá. Isso, claro, era um prazer para sua esposa e Keith.

A razão pela qual Keith notou antes do Bando Selvagem não foi culpa deles. Eles estavam mais focados em melhorar o sistema e testar novos algoritmos que em observar os Digimons, mas mais que isso, era que Keith era quem prestava mais atenção.

"Papai, tem algo esquisito acontecendo", Keith disse no instante que Dolphin pôs o pé pra dentro depois de chegar do laboratório.

"Como assim esquisito?"

"Olha".

Dolphin olhou para o monitor mostrando o Mundo Digital.

Garurumon e Kuwagamon e os outros Digimons estavam ocupados batalhando entre eles, mas Dolphin notou um Digimon não familiar no canto da tela que parecia olhar direto para ele.

"Que Digimon é esse?"

"Eu não sei".

Não era de se admirar por que Keith estava tão perplexo. Embora ele tivesse criado os designs de todos os Digimons, eles tinham sido renderizados numa matriz de pontos e então convertidos em códigos. Alguns eram fáceis de identificar, mas outros eram impossíveis de se dizer o que eles pareciam originalmente.

"Hmm, bem, há muitos Digimons diferentes. Não é de se surpreender que alguns agiriam de forma diferente dos outros. Isso é o que queríamos que acontecesse. Venha, vamos jantar".

Sem dar mais atenção a esse Digimon que não se mexia, esse Digimon que parecia olhar diretamente para o mundo real, Dolphin foi para a cozinha com Keith.

Depois que Dolphin, Curly, Babel e Tao tinham ido para casa, Daisy ficou no laboratório, escrevendo o programa da Arca na base da tentativa e erro.

Um dos monitores em sua mesa tinha um fluxograma do programa da Arca e o outro mostrava o mundo dos Digimons. Aquele Digimon estranho que parecia olhar para o mundo real estava em sua tela também. Notando isso, ela sorriu e acenou.

Era quase hora dela voltar para a própria pesquisa. Ela tinha conseguido uma oferta de um jovem hippie numa companhia emergente de computadores pessoais. Ele tinha pedido a ela pra se juntar à companhia depois da formatura, mas ela ainda precisava conseguir seu doutorado primeiro. Ela só tinha uma quantia limitada de tempo para gastar com os Digimons.

Por causa disso, ela se apressou para completar a Arca como um meio de se comunicar com o mundo dos Digimons. Tao já tinha terminado os algoritmos de evolução e a estava ajudando, mas ela ainda não tinha encontrado o conceito inovador que permitiria a comunicação entre os dois mundos.

Isso foi apenas alguns anos antes do século XXI.

O século XXI, que parecia o futuro distante quando ela era uma garotinha. O filme de onde ela tirou seu apelido se passava no começo do século XXI. O ano de 2001 tinha um lugar especial no coração de Daisy.

Nesse ano ela teria trinta. Ela nem podia se imaginar assim. Ela estaria casada? Teria filhos? Com o que ela estaria trabalhando?

Ela sentia a excitação, e uma incerteza vaga, depois de um tempo ela percebeu que enquanto estava sonhando acordada já tinha se passado das dez. Ela não tinha dito à sua colega de quarto que iria chegar tarde. Ela pegou o telefone, mas não houve som de discagem.

"Que estranho. Me pergunto o que há de errado".

Nenhum dos telefones no laboratório estava funcionando.

De repente ela estava ciente de quão longe o laboratório era do campus, e do quão sozinha ela estava, fora os Digimons na tela. Ela suspirou e se jogou na cadeira, como se dormisse ali. Era como se Deus estivesse dizendo a ela para encerrar pelo dia.

Ela deveria se levantar, pegar as chaves do carro e ir embora.

Mas então ela ouviu um barulho quebrando o silêncio.

"O-o quê?"

Era um barulho alto de algo arranhando alguma coisa. Daisy olhou para a porta. Tinha alguém ali?

Ela se levantou da cadeira silenciosamente e se moveu devagar até a porta, ouvindo atentamente. Ela não podia ouvir muito além do som do ventilador. Era alguém pregando uma peça? Babel?

Ela abriu a porta. Tudo que ela podia ver eram as luzes do estacionamento. A brisa morna da noite soprando em seu cabelo. Ela ficou lá olhando ao redor por alguns instantes até que suas bochechas começaram a ficar frias.

Não era nada. Hora de ir para casa. Com isso em mente, ela se virou e deu de cara com uma visão de gelar o sangue. Marcas profundas cobriam o lado de fora da porta; Parecia que uma fera enorme tinha arranhado a porta com suas garras. Ela rapidamente correu para dentro e fechou a porta. Respirando pesadamente ela disse a si mesma para se acalmar.

Não havia um animal em Palo Alto que pudesse deixar marcas de garras como aquelas. Não que ela já tivesse ouvido falar, pelo menos. Mas definitivamente eram marcas de garras. Sem pensar, ela se moveu para o centro da sala. Ficar apoiada na parede deve ter parecido perigoso demais.

Ela tentou o telefone de novo, mas ainda não estava funcionando. Mas a Rede - a linha conectando o computador ao campus - estava.

Daisy correu até o teclado. Ela redigiu um e-mail e enviou para todos os endereços na universidade. Alguém devia vê-lo.

De repente ela olhou para o monitor perto dela.

"Huh?"

Algo estava faltando. O Digimon que estava no canto inferior direito da tela, o que parecia estar de olho nela, se foi.

Daisy abriu a janela de visão geral e deu uma olhada no mundo dos Digimons. O mundo deles já estava se espalhando rapidamente pela Rede. Sem dúvida haveria uma expansão em breve como a do Período Cambriano.

Mas por agora ainda era possível ver o mundo inteiro de uma vez. E ela não conseguia ver aquele Digimon estranho em nenhum lugar. Ela procurou na rede de códigos e notou que havia um ponto onde parecia haver uma grande quantidade de dados. Ela deu zoom nele. A área em forma de L era estranhamente familiar. Era exatamente como o laboratório de Dolphin.

"Que diabos...?"

Havia um ponto representando uma forma de vida digital naquele espaço em forma e L. "Sou eu?"

Seus ouvidos zumbiam. Ela sabia que precisava descobrir o que estava acontecendo o mais rápido possível, mas ela não queria saber. Seus pensamentos congelaram.

A área onde ela estava não era o laboratório em forma de L, mas um espaço bem do lado de fora. Movendo-se ao redor havia um ponto com metade do tamanho do prédio. Ela ouviu um som como o de um animal rosnando. Ela se virou. Havia uma mancha negra no lado de fora da janela. Ela não podia ver nada. Claro que não podia. Como poderia? Ela não podia ver algo que não existia no Mundo Real.

Então o prédio começou a ranger e balançar. O animal estava se inclinando contra o teto e fazendo o prédio tremer. Daisy gritou e cobriu as orelhas. As lâmpadas penduradas no teto balançavam violentamente. O teclado de Babel e pilhas de papéis caíram da mesa dele para o chão.

"Isso não pode estar acontecendo. Isso não é o que eu estava pesquisando".

"Não tem como o mundo virtual adentrar no Mundo Real".

"Eu só estou imaginando coisas".

Ela derrubou o monitor do Mundo dos Digimons no chão.

Ela destruiu monitor seguido de monitor, então abriu a porta do porão e desceu correndo as escadas para desligar o computador central. Silêncio.  Sua respiração irregular ecoava pelo cômodo. Então, de repente, ela ouviu outra batida violenta na porta.

Ela cobriu as orelhas e se encolheu no chão, fechando os olhos com força. Ela dizia a si mesma que era só um sonho. Ela dizia a si mesma que era apenas imaginação. Quando alguma coisa a agarrou pelo braço, ela deixou escapar um grito alto e tentou se soltar.

"Aguenta aí! Sou eu".

"Shibumi..."

Ele sempre tinha estado tão distante, mas agora olhava para ela tão sombriamente.

A polícia do campus alegou que os eventos daquela noite tinham sido causados por um furacão, mas o Bando Selvagem não acreditou.

Os Digimons continuaram evoluindo, mas, naquela noite, alguns deles desapareceram do computador central. O Bando Selvagem estava com medo de que algum tipo de vírus pudesse danificar a Rede, então eles não tinham como ir atrás dos Digimons desaparecidos.

Eles continuaram os experimentos, mas em 1986 os fundos dos patrocinadores no Japão secaram. Dolphin tentou apoiar o projeto por conta própria, só não era viável e eventualmente o projeto foi dissolvido. Uma pequena festa de despedida foi dada no laboratório, já esvaziado de tudo.

"Oh, onde está Shibumi?"

Aparentemente o japonês distante já tinha voltado para seu país. Daisy olhou para a mesa dele, onde ele sempre se sentou de costas para eles, trabalhando em silêncio no sistema de Rede.

Na mesa havia um único disquete com uma etiqueta azul.

Seis meses depois, quando ela estava fazendo pesquisas em GUI para uma companhia de computação pessoal, ela recebeu um e-mail endereçado a um apelido familiar.

Era de Tao. Ele estava vivendo no Japão agora, com uma mulher japonesa com quem ele se casou enquanto ainda era um estudante, e agora trabalhava numa firma rival.

"Já faz um bom tempo que alguém não me chama de Daisy", os lábios dela formavam um pequeno sorriso enquanto ela lia o e-mail.

"Como vai? Lembra do disquete azul que Shibumi deixou? Na verdade, eu estava dando uma olhada nele agora mesmo, mas não tinha certeza se devia ou não contar a alguém. Mas por causa do que aconteceu com você, eu senti que você tinha o direito de saber".

Daisy hesitou em ler. Shibumi a tinha salvado naquela noite, tinha sido seu samurai. O que ele fez?

"Aparentemente, Shibumi não estava cuidando apenas da própria pesquisa. Ele também tomou a liberdade de adicionar alguns algoritmos no meu programa de evolução, Entelequeia".

Evolução?

Pensando bem, ele tinha dito algo sobre a chave da evolução dos Digimons estar o Mundo Real Tao encerrou dizendo que não tinha ouvido falar de Shibumi já há seis meses.

Daisy disse que os Digimons não tinham mais nada a ver com ela.

Mas os Digimons se espalharam pelo mundo de um jeito que ela não esperava.

Os dados dos Digimon na Rede se tornaram de Domínio Público.

Então uma empresa de brinquedos japonesa os usou em seu jogos portáteis e eles se tornaram populares entre crianças de todo o mundo.

Um dia, enquanto fazia compras no shopping, ela passou por uma criança brincando com um desses jogos em forma de ovo e pensou que o projeto no qual ela estava tão imersa, a Arca, tinha ficado um passo mais próximo da realidade.

Mas ela nunca mais pensou nos Digimons de novo depois daquilo.

Isso é, não até 2001.

Fim?


1. O programa que Tao chamou de Entelequeia é o que torna a evolução dos Digimons possível no universo de Digimon Tamers. Era esse programa que futuramente Tintiromon iria transformar em Culumon para protegê-lo do Matador. Na versão brasileira, esse termo foi chamado Digi-Intelecto. Entelequeia é essencialmente Culumon em sua forma original.
2. A Arca em que Daisy trabalha é a mesma Arca que vemos com Shibumi no episódio 32 e que levaria as crianças de volta ao Mundo Real. A Arca possui a mesma aparência do Digivice da temporada, daí o nome Digivice D-Ark. A função do Digivice de exibir as informações de um Digimon vem do fato da Arca ser a interface que conectaria os dois mundos.



Versão traduzida a partir da tradução do fórum With the Will
Raw Scans: Kaen-Chan
Versão em inglês: Grace Anderson (Megchan)
Editor: Vande
QC: godofchaos

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