Todas as informações foram bloqueadas.
Por um momento, Eiji não teve nada com que se basear. Nenhuma visão, nenhum som – nada. Um momento depois sua visão voltou, ou as luzes voltaram; era difícil dizer qual dos dois.
Quando seus olhos finalmente focaram, ele viu que o círculo de pedras havia se invertido completamente.
"Ei, espere – o quê?!"
Não, isso não estava certo. O círculo de pedras não havia sido invertido; Eiji se viu deitado no chão.
"Rrgh", Loogamon grunhiu.
"Loogamon! Você está bem?"
Eiji disse, levantando-se.
Loogamon ficou deitado no chão, lutando.
"Eu... não consigo me mover".
Algo estava muito errado.
Ryudamon também estava desacordado, embora isso não fosse um novidade.
Loogamon e Dorumon estavam dentro do círculo de pedras, assim como as formas hololizadas de Kosuke e Yulin.
O desligamento do sistema deve ter deixado todos inconscientes.
As interfaces de cada um dos Digimons Protótipos ainda estavam acesas, mas estavam diminuindo lentamente.
"Loogamon?!" Eiji gritou.
A luz na interface do Loogamon apagou-se e eles perderam a consciência.
A luz retornou à interface um momento depois, sinalizando uma reinicialização. Desta vez, porém, a interface estava executando uma tonelada de código ininteligível e exibindo erros.
"Por que...?"
A voz de Kosuke começou a tremer.
Ele continuou tentando reiniciar seu monitor virtual, mas á coisa toda só crashava toda vez, espalhando uma longa série de mensagens de erro em seu campo de visão.
O processo de descriptografia do código-fonte foi cancelado sem aviso prévio no pior momento possível.
"Bom dia, amigos", disse uma voz suavemente.
A voz era gentil, familiar.
Como se fosse cumprimentá-los depois de um longo dia de trabalho, mas então por que bom dia..?
Eiji se virou para encarar sua fonte.
"Professor Ryusenji?", Eiji disse suavemente.
Certamente parecia com sua silhueta. Ele ficou de costas para seus pupilos.
"Eu assumo a partir daqui", respondeu o Professor.
Lá estava ele, vestido como sempre fazia no laboratório DDL.
"Professor?" Yulin disse, atordoado.
"O que você está fazendo...? Por que...?"
Kosuke disse confuso, confuso com a aparição repentina do professor.
"Por que vocês estão tão surpresos?", ele disse em sua cadência distinta enquanto se virava.
De alguma forma, o Professor Tomonori Ryusenji estava diante deles no Domínio Fonte.
Kosuke e Yulin levantaram-se silenciosamente, compreensivelmente tensos.
O professor deles acabara de deixá-los inconscientes com uma única frase — ou seria um código?
"Afinal, fui eu que lhes confiei esses Digimons Protótipos e pedi que vocês cuidassem deles para mim", continuou o professor.
Não só o Loogamon de Eiji, mas também o Dorumon de Kousuke e o Ryudamon de Yulin. Todos foram dados pelo Professor. Aquele momento foi um ponto de viragem na vida de cada um deles.
"Agora suponho que poderia fazer isso a qualquer momento, mas que melhor momento do que agora?"
RESTRIÇÂO
"Guh!"
"O que é isso?! Ah!"
Loogamon e Dorumon agora foram contidos exatamente pela mesma ferramenta que usaram em Ryudamon.
"Uma ferramenta de contenção? Como você fez isso?!", Dorumon gritou, atordoado.
A maioria dos Digimon, quando conscientes, eram protegidos por seus próprios sistemas de segurança, o que tornava a contenção deles com ferramentas de software mais difícil. Ryudamon foi uma captura fácil apenas porque foi nocauteado primeiro.
"O que acabei de dizer? Eu pedi a VOCÊS para criá-los para MIM. Vocês acharam que eu estava dando eles para vocês?"
Professor Ryusenji disse severamente.
"Estavam dentro de nós desde o início!", Loogamon gritou.
A cabeça de Dorumon virou-se em direção a Loogamon, os olhos arregalados.
A única explicação para a ferramenta de contenção contornar a segurança natural era que ela havia sido instalada nos Digimons Protótipos desde o início.
"Você mexeu com o Ryudamon?!", Yulin perguntou alarmado.
"Faz parte de um conjunto de ferramentas de pesquisa implantadas em cada Digimon e em cada um dos seus Digimon Linkers. Eu não mencionei tudo isso quando os entreguei a você?", o professor disse com indiferença.
Eiji olhou para seu pulso.
O Digimon Linker estava cheio de spyware!
O monitoramento constante da saúde e o registro do progresso do Loogamon não eram apenas para o benefício de Eiji – eles estavam sendo transferidos de volta para o LDD.
"Também posso assumir o controle desses Digimons à força, se necessário. Mesmo se vocês estiver em com o Link Mental ligado. A pesquisa requer salvaguardas, vocês não concordam? Por exemplo, se um Protótipo valioso, digamos, enlouquecesse e se transformasse em Helloogarmon, isso seria bastante lamentável. Não seria, Eiji?"
O professor Ryusenji virou-se para Eiji, cujo queixo caiu.
"O que vocês consideram seus Digimons são minhas ferramentas, e eu as gerencio como achar melhor. Fui claro?"
Com isso, seu avatar virtual caminhou até o centro do círculo de pedras.
Os três protótipos de Digimon lutaram inutilmente contra suas restrições.
"Os Digimons Protótipos foram criados para acessar os dados do Domínio Fonte, e os Digimon Linkers foram criados para servir como uma ponte de rede entre o Mundo Digital e o mundo real", Yulin disse suavemente enquanto uma visão mais completa do plano do professor aparecia nela.
(O que é todo esse... ruído?)
Eiji percebeu um estranho brilho que percorria a imagem do Professor Ryusenji de vez em quando.
O Professor Ryusenji estava se hololizando através das projeções combinadas de cada um dos seus Digimon Linkers.
Ele nada mais era do que um vídeo projetado no espaço.
Ele não tinha o mesmo volume que Eiji e os outros tinham por estar devidamente hololizado.
No entanto, ele, e não Kosuke, estava agora no controle total da Operação Tartarus.
Não. Ele sempre esteve.
Os Digimons, o equipamento que todos usavam para interagir com eles, estava tudo sob o controle do Professor Ryusenji.
Estava tudo bem diante deles e, pior, eles concordaram com os termos.
"Eu sempre estive sob o controle do LDD..."
Loogamon disse, tentando recuperar o que restava de sua memória.
Estava voltando aos trancos e barrancos, mas o Lobo Demônio do Castelo dos Nove Lobos relembrou sua captura na Favela do Muro pelas mãos dos funcionários do LDD.
Isso, e a instalação de uma ferramenta de contenção caso o Digimon enlouquecesse durante o experimento.
Ele era como Fenrir, das mitologias antigas, preso pelo cordão mágico Gleipnir.
Naturalmente, tudo isso confidencial do D4.
O plano era inteligente, com certeza. As restrições foram disfarçadas como ferramentas de pesquisa para que a DigiPolícia não as encontrasse, mesmo que pensassem em procurá-las.
Afinal, o Professor Ryusenji nunca deu a Yulin nenhum motivo para duvidar dele. Kosuke sempre o viu como seu aliado mais próximo. Eles seriam uma família.
"Loogamon", Dorumon disse através de uma careta, "Você, eu, Ryudamon... o LDD controlou todos nós em um ponto ou outro. Foi então que instalaram a ferramenta de contenção em nós, diretamente ou através do novo Digimon Linker".
Essas eram as únicas maneiras pelas quais eles poderiam contornar os protocolos de segurança dos Digimons.
"Ah, não é tão incomum. às vezes acontece de até meso os humanos terem objetos e instrumentos deixados dentro deles durante uma cirurgia e nunca perceberem, mesmo enquanto curam", acrescentou o professor Ryusenji, embora o exemplo não tenha utilidade para os Digimon agora.
"O que diabos você pensa que está fazendo, Professor?!” Kosuke explodiu, jogando de lado seu monitor virtual cheio de erros.
Ele olhava com raiva para a projeção do professor, mas seu tom era tão petulante quanto o de qualquer aluno do primeiro ano.
"Deixe-me colocar de uma forma que vocês, decifradores de código, entenderiam. Sua história agora se tornou minha. É realmente muito simples".
Ele não estava fisicamente presente de forma significativa, mas agora estava no controle.
Ele decodificou a história deles – suas vidas.
E enquanto os Digimons Protótipos permanecessem como a chave de descriptografia, seria o Professor Ryusenji quem viraria a página deste capítulo.
"Agora, observe atentamente. Farei isso um passo de cada vez".
Ele começou a trabalhar.
Primeiro, o objeto Dados conectado à interface na cabeça de Dorumon e o código começaram a fluir entre eles, restaurando parte do sinal.
"O que você está fazendo?!" Kosuke gritou.
"Acho que é óbvio. Estou descriptografando o código do Domínio Fonte. É justo que eu faça isso, não é?", o professor disse, olhando para Kosuke. "Quem melhor do que Tomonori Ryusenji, maior especialista no Mundo Digital, para dar o próximo grande salto neste campo?"
Kosuke ficou impotente enquanto seu parceiro Digimon era sequestrado diante de seus olhos.
"Acessando o código do Domínio Fonte", veio um anúncio, pisando nas últimas palavras do discurso do Professor Ryusenji.
Era uma voz monótona e sem emoção; frio e robótico.
Esta era a voz do próprio Domínio Fonte?
"Loogamon!"
Eiji gritou, digitando furiosamente em seu monitor virtual em uma tentativa de recuperar o controle.
"Não parece bom", o lobo respondeu fracamente.
Eles já estavam desistindo; ainda consciente, mas incapaz de se mover.
O sistema assumiu completamente o controle de seu corpo através de sua interface.
Eiji lutou para recuperar o controle à força, apesar do fato de o Professor Ryusenji nada mais ser do que um feed de vídeo que nem sequer estava ligado ao Digimon que ele agora controlava.
Não havia como cortar a projeção, muito menos cortar a conexão do professor com os Digimons.
E se eles não conseguissem impedir o Professor Ryusenji?
"Devíamos estar do mesmo lado!", Kosuke gritou, desesperado agora.
"Eu também quero salvar Saya!"
"Professor! Professor Ryusenji, por favor!", Eiji gritou.
Ele se sentia como uma criança tentando se inserir na conversa de um adulto.
"O que foi, Eiji? Estou bastante ocupado. Ah, você está se perguntando qual foi o incentivo para digivolver o Loogamon para sua forma Perfeita? Bem...
"Não! Você tem que me ouvir!"
“Humph. Tudo bem então.”
"Eu acabei de ouvir do Tartaro – de Kosuke, de passagem – mas essa Saya, a mulher que é DECD e parceira do Black Agumon... Ela é sua filha, não é?!"
"Descriptografando o código do Domínio Fonte", entoou o Domínio Fonte.
No momento seguinte, o sinal entre os Digimons tremeluziu e o processo parou.
"Argh!", Dorumon grunhiu enquanto tentavam se levantar, desafiando suas restrições.
"Depois do acidente prometi a Kosuke que cuidaria dele, mesmo depois que ele abandonasse a escola e saísse da empresa. Prometi que faria o mesmo por Yulin, independentemente do que ela decidisse fazer depois de partir", disse Tomonori, explicando o encobrimento do acidente em um esforço para proteger o futuro de seus alunos.
"Vocês dois me deixaram orgulhoso da minha decisão de investir tanto em vocês. Então pense nisso como se eu estivesse cobrando o favor que vocês me devem por lhes conceder tantas oportunidades na vida".
Esse foi o grande momento do professor.
Sua chance de inaugurar uma revolução que mudaria para sempre a humanidade e o mundo digital.
"Não vejo o que isso tem a ver com a minha pergunta!"
"Você não entenderia. De qualquer forma, tudo isso foi antes de você nascer".
Professor Ryusenji disse cordialmente, descartando as tentativas de Eiji de se inserir na conversa.
"Mas é por isso que você vai salvá-la, certo? A noiva de Kosuke. Sua própria filha!"
Isso estava tudo errado. Eiji e Kosuke deveriam estar ajudando Saya, Leon e Pulsemon.
Essa foi a razão pela qual Eiji e Loogamon estavam fazendo tudo isso!
"Então por que você está lutando contra Kosuke? Vocês estão do mesmo lado, como ele disse!" Eiji não sabia mais de que lado ele estava.
"Você é um jovem fascinante, Eiji. Você parece completamente alheio, mas vê tudo tão claramente na hora certa".
"Eu o quê? Você está me elogiando?"
"Eu gosto de você, realmente gosto. É por isso que vou contar tudo para vocês. Até mesmo as coisas que nunca contei a Kosuke".
"Er...ok?"
"Começaremos com o fato de que não estou nem um pouco interessado em procurar por aquele Black Agumon".
Sem interesse pelo Black Agumon... Sem interesse no Digimon que deixou sua filha DECD...
"Mas—mas esse é o Digimon parceiro da sua filha! O que você quer dizer com você não...? Você deu o remédio ao Kosuke para... para...!”
Eiji sentiu como se o fundo do mundo estivesse desabando.
"Nem um pouco interessado, hein?", Kosuke disse.
Ele sabia exatamente o que o professor queria dizer com essa frase.
"Quero dizer. O que está perdido está perdido. O plano ao qual você dedicou metade da sua vida, Kosuke, é um monumento ao esforço desperdiçado!" o Professor gritou.
"Não, Tartaro! Pense por um segundo! Não deixe ele quebrar você!", Dorumon gritou, lutando contra as restrições.
Sua falta de interesse pelo Black Agumon, por sua própria filha DMIA, tinha que ser uma manobra.
"Professor!", Yulin interrompeu.
"E agora?"
"Eu tenho um palpite há muito tempo. Não consigo parar de pensar nisso, não importa o quanto eu tente", disse ela.
O Professor Ryusenji sorriu.
"Seu palpite pode muito bem estar correto, oficial".
Sem aviso, um índice apareceu diante deles.
Uma cúpula varreu a extensão aparentemente infinita do Domínio Fonte, coberta de informações que voavam acima deles como constelações em um planetário.
Através da projeção de uma árvore em múltiplas camadas, estendendo-se até o infinito, crescendo cada vez mais à medida que avançava, havia uma linha única e simples de luz.
"É isso. A árvore de informações do diretório universal", disse o professor, examinando os dados para chegar a um ponto minucioso, bem fundo na estrutura.
"Pesquisa concluída", entoou a voz do Domínio Fonte.
Um pequeno pedaço de dados apareceu quando foi descriptografado.
Uma faísca.
Aos poucos, um pequeno Digimon semelhante a uma fada apareceu, envolto em relâmpagos crepitantes.
"Pulsemon!"
"O que Pulsemon está fazendo aqui?!"
A alegria de Loogamon e Eiji deu lugar à perplexidade.
O rosto de Pulsemon estava completamente vazio, seus olhos vazios.
"Bem, o que você acha? Este é realmente o Pulsemon que você e Loogamon estavam procurando",
disse o professor.
Eiji engoliu em seco.
"Isso é apenas uma amostra do que pode ser feito com o controle dos dados do Domínio Fonte", continuou ele, cada palavra transbordando um sentimento de superioridade.
"Você quer dizer que podemos pesquisar todo o Mundo Digital a partir daqui?"
Yulin disse surpreso.
Lá, nas Profundezas do Mundo Digital, onde nenhum ser humano jamais pisou, era possível procurar qualquer Digimon pelo seu código de identificação.
Antes que alguém tivesse tempo de processar o poder do que testemunharam, outra luz disparou em busca de seu alvo.
Outra forma apareceu diante deles.
Eiji engoliu em seco mais uma vez.
"O Black Agumon!", Kosuke gritou.
A forma de um pequeno Digimon semelhante a um dinossauro flutuava diante de seus olhos.
Não parecia preto por si só, mas a imagem em si parecia monocromática, como uma criatura de um filme antigo com forma tridimensional.
"Hm, como eu suspeitava. Mesmo que o humano morra, o Digimon parceiro não sofrerá o mesmo destino", disse clinicamente o professor Ryusenji.
"...Espere, o que você acabou de dizer?"
Eiji gaguejou. As palavras se repetiam continuamente em sua cabeça.
Mesmo que o humano... MORRA?
"Ela esta..." Yulin disse, com o coração apertado quando o palpite que ela fez o possível para não acreditar se provou verdadeiro. "Ela está morta?!"
O professor Ryusenji abriu um monitor virtual acima de sua cabeça.
Um vídeo de Saya, abrigado em uma cápsula cheia de fluido colorido, apareceu diante deles.
"Saya!"
Yulin chorou, lágrimas brotando de seus olhos.
A imagem desapareceu como uma velha televisão de tubo sendo desligada.
Era tudo falso.
"Oh sim. Saya está morra já há algum tempo".
