terça-feira, 31 de outubro de 2023

Digimon Seekers 3.6 - Unidade 11: Desaparecidos em Combate Digital Parte 6



O Digimon registrado no Dock de Saya era um Agumon, um Digimon semelhante a um dinossauro bípede.
O de Kosuke tinha um Tentomon, um Digimon inseto parecido com uma joaninha.
O de Yulin ficou com um Palmon.Sua aparência era melhor descrita como uma criatura sintética com uma flor desabrochando na cabeça, com características de uma planta e de um réptil.




O professor Ryusenji e seus alunos se reuniram em torno de uma mesa na câmara de testes, bebendo chá enquanto analisavam o último experimento de Link Mental de Saya.
Ao contrário dos experimentos de biotecnologia ou da fabricação de semicondutores, a pesquisa  dos Digimons não exigia uma sala limpa. No entanto, exigia internet de alta velocidade, servidores com bastante espaço e uma fonte de alimentação sólida.
"Bem, isso completa a bateria de testes que definimos para nós três", disse Yulin, verificando o cronograma.

Eles estavam se acostumando com o processo de transferir suas consciências para o DigiNúcleo de seus parceiros Digimons e experimentar o mundo através de seus sentidos.

"Conseguimos fazer o Link Mental com sucesso em um ambiente de teste controlado no laboratório, mas ainda não saímos dos limites do Dock", disse Kosuke, pegando o dispositivo com seu Tentomon nele.

Embora os testes tenham sido bem-sucedidos, tudo que os alunos experimentaram através de seus parceiros Digimon foram as próprias pequenas áreas dos próprios Digimon Docks.
"Que experimentamos como uma imagem em preto e branco fortemente pixelizada, acompanhada pelo chiado de estática e outros ruídos variados", interveio Yulin.
"E isso é um problema de hardware. Precisamos de mais poder de processamento", disse Kosuke, irritado com o que considerou ser o início de uma discussão.
"Então vocês ainda não viram o Mundo Digital com seus próprios olhos", disse o professor Ryusenji a ninguém em particular.

O objetivo permaneceu o mesmo: sair do Dock e explorar o Mundo Digital em primeira mão.

Libertar seus Digimon do Digimon Dock e colocá-os em seu habitat natural na Internet.
Isso significava que eles também precisariam aprender a manter o controle de seu parceiro Digimon.
Se um Digimon escapasse ou os estudantes fossem descuidados com seus pupilos, isso seria o fim de tudo.
Não havia segundas chances. Os três tiveram que provar que podiam lidar com seus Digimons com a precisão de uma equipe que pousa uma sonda em um pequeno planeta.
"Eu me pergunto se a paisagem do Mundo Digital se parecerá com algo que reconhecemos", disse Yulin, meio sonhando acordado.
Ela poderia conjurar uma imagem em seu cérebro, desde que se parecesse com a Terra ou com qualquer outro planeta do sistema solar, mas não tinha ideia de como seria o Mundo Digital.
Tudo o que tinham visto até agora eram montes de valores numéricos em uma tela.
"O Mundo Digital tem seus próprios sistemas", disse o professor suavemente.
"O que disse, Professor?"
Todos os três se viraram para olhar para ele.
"Suponho que tenha algo semelhante à nossa cadeia alimentar. Sobrevivência do mais forte. Essas criaturas de IA lutam entre si para ver qual é mais forte. Os mais fortes sobrevivem, enquanto os fracos às vezes morrem. Então no final..."
O professor Ryusenji disse, parando e deixando seus alunos preencherem a lacuna: que não era tão diferente da Terra.

Tinha o seu próprio ecossistema capaz de sustentar a vida, e a sua principal prioridade era experimentá-lo por si próprios.
"Kosuke está supervisionando o desenvolvimento das ferramentas de controle Digimon, que prossegue em ritmo acelerado. Vários Digimon foram soltos no Mundo Digital, encontrados em outros lugares através da Rede e devolvidos em segurança. Isto produziu um rico conjunto de dados", continuou o professor Ryusenji.
Era como dar a volta na lua e voltar. Ou talvez mais como pequenos bumerangues arremessados, aventurando-se pelos campos, mas capazes de encontrar o caminho de volta.
Esta descoberta não veio de câmeras acopladas às criaturas, mas da análise dos dados colhidos dos próprios Digimon.
"De forma honesta, Kousuke, quantos Digimons você nã conseguiu recuperar", Yulin perguntou sem rodeios.
"Desde que começamos a usar esse novo conjunto de ferramentas e sistemas de navegação, posso dizer apenas que nossa taxa de sucesso está acima de 80%", respondeu Kosuke.
Era pedir demais que um software atualmente em desenvolvimento já trouxesse a perfeição nos resultados, muito menos de um software sendo desenvolvido para um mundo totalmente desconhecido.
"É como a corrida da humanidade até a lua", disse o professor Ryusenji. "O primeiro foguete tripulado do programa Apollo, Apollo 1, foi na verdade a quarta nave desse tipo e seria o terceiro voo espacial tripulado. Nunca voou; um incêndio na cabine matou todos os três astronautas durante um teste de rotina".
"Pai..." Saya disse, sem saber para onde essa anedota mórbida estava indo.
"Essa é uma história muito sombria para ser contada como se não fosse nos azarar", disse Yulin, franzindo a testa.
"Vários outros voos de teste não tripulados foram lançados nesse ínterim. O próximo vôo tripulado foi o Apollo 7, que foi lançado com sucesso na órbita da Terra. A Apollo 8 foi lançada com sucesso e orbitou a lua várias vezes antes de retornar. Foi o primeiro voo a sair completamente da órbita da Terra, a explorar o lado escuro da Lua e a dar à humanidade uma visão da Terra de longe. A tripulação observou a Terra surgir no horizonte da lua. É aí que nos encontramos nos nossos esforços para observar o mundo digital".

Por mais que a Terra não pudesse ser vista do lado escuro da Lua, eles desejavam mergulhar e observar o Mundo Digital através da Internet, onde não seriam capazes de ver o que estava acontecendo no mundo real.
Eles apelidaram esse empreendimento de Programa Tartarus.
Se Apolo representava o sol, então este era um mergulho profundo para encontrar o Tártaro no submundo, em algum lugar nos vastos mares da Rede.
O sucesso do programa significaria nada menos que a chegada da humanidade ao Mundo Digital; uma conquista monumental que rivaliza com a chegada da humanidade à lua.

Este foi apenas o primeiro passo significativo.

Yulin, Saya e Kosuke sabiam o que precisava ser feito.
Os três estavam prestes a se tornarem cibernautas no Mundo Digital. Não havia outra equipe além deles.




Na noite anterior ao início do Programa Tartarus, Yulin, Kosuke e Saya visitaram o terreno onde a Universidade de Engenharia Elétrica e de Computação de Tóquio seria construída, no distrito de Denrin.

Suas respirações pairavam no ar gelado.
"Uau, eles vão mesmo construir uma universidade inteira aqui!", Saya refletiu, abrindo bem os braços para enfatizar a escala de uma 'universidade inteira'.
Mais uma estrutura novinha em folha em meio a todo o desenvolvimento que foi Tóquio.
O terreno já havia sido liberado, mas as bases ainda não haviam sido lançadas. Era estranho ver tanto espaço sem outro prédio, ou mesmo uma árvore, no caminho. Maquinaria pesada e um estoque de materiais ficavam de lado.

Os três ficaram parados no silêncio da noite, conscientes de que eram os únicos ali.

O céu noturno estendia-se sobre as luzes da cidade, uma vasta janela para a escuridão infinita.
"Ainda parece bastante vazio", disse Kosuke enquanto olhava para o terreno.
Ele enfiou as mãos nos bolsos do casaco e estremeceu ligeiramente.
Ainda não havia lojas de conveniência ou casas nesta área; as únicas outras estruturas eram edifícios pré-fabricados destinados a servir de escritórios para trabalhadores da construção civil. A luz de uma máquina de venda automática chamou a atenção de Kosuke. Ele foi até lá.

Yulin desligou o motor e saiu do carro branco da empresa.
Ela era a única com carteira de motorista e por isso coube a ela tornar essa viagem uma realidade.
"O que deu em você para querer vir até aqui esta noite, Saya?"
"Você não está curioso sobre o lugar onde poderemos trabalhar algum dia? Eu só queria dar uma olhada".
"Sim, é difícil imaginar agora, mas acho que trabalharemos aqui..." Yulin disse calmamente.
Depois que a universidade fosse transferida e totalmente estabelecida, o objetivo era estabelecer a chamada Vila Venture, com vários edifícios de escritórios na área para as empresas se mudarem e edifícios de escritórios paa apoiar star-ups.
A Universidade de Engenharia Elétrica e de Computação de Tóquio, fiel ao seu nome, abrigaria um supercomputador e um enorme data center para atrair futuros alunos. Esses mesmos equipamentos também serviriam para impulsionar a próxima etapa da pesquisa do professor Ryusenji.
"Esta é a única chance de vermos isso vazio! Antes que tantas coisas e vidas diferentes preencham tudo", disse Saya, tornando-se poético.
"Uh-huh", Yulin disse distraidamente.
"Espero que daqui a dez anos ainda estejamos todos juntos aqui", disse Saya.
Ela agarrou seu Digimon Dock com força em sua mão.

"Você vê isso, Agu? Haverá uma cidade totalmente nova aqui. Será chamado de Distrito de Denrin. Espero que seja confortável para você e todos os outros Digimons viverem".

O pequeno dinossauro pixelado na tela do Dock parecia estar olhando para frente e para trás, como se estivesse cauteloso com o que estava ao seu redor.

"Você fala com essa coisa o tempo todo, hein?", Yulin disse, virando-se para Saya.
"Quer dizer que você não fala com Palmon?", Saya respondeu.
"Er, bem...", Yulin começou.
Ela honestamente nunca pensou nisso. Falar com seu parceiro Digimon.

Eles não perceberiam isso até muito, muito mais tarde, mas o Link Mental que eles estavam praticando até agora seria considerado incompleto pelos padrões atuais, devido à falta de recursos e às velocidades de Rede lentas da primeira versão do Digimon Dock. .
A conversa direta com o parceiro Digimon via Link Mental como conhecemos hoje teria que esperar pelo aumento do processamento do Dock e pela velocidade maior da Rede em dispositivos digitais futuros.

Saya foi a primeira entre eles a reconhecer a comunicação Digimon como uma característica importante, quer ela tenha percebido isso neste momento ou não.
"Quer dizer, conversamos com cães e gatos o tempo todo e às vezes parece que eles nos entendem, certo?"
Saya passou a estabelecer a mesma conexão entre as pessoas e os Digimon. Mesmo que as criaturinhas não pudessem falar sozinhas, talvez pudessem começar a entender os humanos e a linguagem humana.
As ferramentas de software de Kosuke, que concediam aos humanos controle forçado sobre os Digimon por meio de comandos de software, eram a única maneira de se comunicar com os Digimon na época.
Porém, se eles pudessem entender o idoma, qualquer pessoa poderia se comunicar com essas IAs chamadas Digimons sem precisar de conhecimento especializado de software.
"Sim, isso seria muito útil", admitiu Yulin.
"Na verdade, às vezes acho que já consigo ouvir a voz do Agumon!", Saya deixou escapar.
"Você... consegue ouvir Agumon falando com você?"
"Sim, quando estamos em Link Mental, quero dizer. Tenho quase certeza de que alguém está falando comigo, de qualquer maneira".
"Então nossos parceiros Digimons poderão falar conosco quando estivermos dentro do DigiNúcleo? Mas você nunca relatou isso..."
"Você tem que manter isso em segredo! Se eles acharem que estou ouvindo coisas, podem me expulsar do projeto", implorou Saya.
Isso era verdade. Eles sempre poderiam empurrá-la em favor de um candidato alternativo, enquanot ela ficaria na reserva.

Não ajudava o fato de ela ter sido a mais lenta deles em se adaptar ao Link Mental.
Ela também foi a única cuja condição piorou ao ponto de vomitar após cada sessão, o que tornou ainda mais surpreendente que, por todas as métricas disponíveis, ela compartilhasse o vínculo mais forte com seu parceiro Digimon.
Todos esperavam que sua ligação mental com Agumon produzisse a filmagem mais nítida do Mundo Digital até o momento.

"O que ele te diz?"
"Eu não sei, mas parece... amigável? Como se estivesse chamando meu nome ou estivesse feliz por eu ter voltado para brincar. COmo se fôssemos amigos", disse Saya.
Todas as coisas que eram muito moles e metafóricas para serem quantificadas adequadamente.
Mas Digimons eram formas de vida de IA. Estas criaturas certamente tinham inteligência e personalidade.
"É exatamente como você disse", continuou Saya.
"O que ei disse?"
"Fazer contato com os Digimons é incrível... e incrivelmente perigoso".
"Ah sim. Seria tipo encontrar um extraterrestre".
A descoberta de Digimon não foi como a descoberta de uma nova espécie, na verdade. Na verdade, Yulin percebeu que era provável que os humanos estivessem operando com base na suposição incorreta de que a inteligência e a sociedade dos Digimon estavam abaixo das dos humanos.
Ela deu voz à sua preocupação.
"Achamos que nós é que descobrimos o mundo digital, mas e se formos nós que fomos descobertos?"
Saya também estava ciente dessa preocupação.
"Mais uma razão para continuarmos nossos estudos. A Rede já causou a colisão de nossos mundos".

Foi como colocar leite no café. Uma vez misturados, os dois não poderiam ser separados novamente.
A humanidade não poderia simplesmente desligar-se da Rede e ignorar o Mundo Digital.

"Meu pai acha que você é o membro mais importante da equipe, sabe", acrescentou ela com um sorriso, mudando abruptamente de assunto.
"Meu? O Kosuke não?" Yulin disse, sua voz aumentando de surpresa.
"Não, ele é apenas uma versão mais jovem do meu pai. E eu sou filha dele, então é difícil me separar desse rótulo. Mas você faz com que isso pareça mais uma operação oficial. Como uma empresa", disse Saya diante de um olhar vazio e silêncio de Yulin.

"Aqui, vou dar um exemplo. Digamos que cometemos um erro ou começamos a seguir o caminho errado em nossa pesquisa. Você é basicamente o único que pode nos impedir. Pelo menos é o que penso".
"Espera, o que? O que você está falando?"
"Eu sei, é muito—"
"Argh, está congelando! Não posso acreditar que aquela máquina de venda automática ainda contém bebidas geladas no auge do inverno", Kosuke resmungou enquanto caminhava até Yulin e Saya.
Ele entregou a cada um deles uma bebida quente.
"Sim, está frio. O vento também é muito forte. Podemos voltar se você estiver pronto", Yulin ofereceu, abraçando os próprios ombros e estremecendo performáticamente.
"Vamos ficar só mais um pouco", disse Saya.
"Estou bem de qualquer maneira. Já se passou um minuto desde que consegui ficar parado e me afastar", Kosuke concordou evasivamente.
"Então estarei no carro", disse Yulin, afastando-se resolutamente.

Ela entrou, ligou o motor e ligou o aquecimento.
Ela observou Saya e Kosuke amontoados, olhando para o céu noturno claro, onde a lua era a única coisa que retribuía seu olhar.

Ela apoiou as mãos no volante e observou-os através do para-brisa.
Por que eles tinham que fazer tal exibição de tudo?
Um pouco irritada com o carinho exibicionista deles, ela pegou o telefone e tirou uma foto sorrateira dos dois pombinhos.





O Programa Tartarus da Ryusenji Eletrônica estava finalmente pronto para sua estreia na Câmara de Testes #4.

Por ordem do Professor Ryusenji, a equipe de ataque composta por Yulin, Kosuke e Saya deveria simultaneamente conectar-se mentalmente com seus Digimons.
Yulin era a capitã, Kosuke o engenheiro e navegador e Saya a equipe de observação formada por uma mulher só.
Eles embarcaram em uma nave de observação digital que apelidaram de sonda Tartarus e se prepararam para iniciar a primeira observação direta do Mundo Digital através de seus parceiros Digimon: Palmon, Tentomon e Agumon.
A exploração direta do Mundo Digital via Link Mental finalmente tinha começado.




Foi um fracasso desprezível.






0 Comments
Disqus
Fb Comments

Nenhum comentário:

Postar um comentário