segunda-feira, 8 de julho de 2024

Digimon Adventure - Capítulo 1.1: Aquele Verão



– Você está bem? – Taichi Yagami perguntou à sua irmã mais nova Hikari conforme ele colocava uma bolsa de gel frio em sua testa. A pobre garota estava tremendo de febre debaixo dos cobertores,
Com o sorriso mais brilhante do mundo que ela podia dar, Hikari disse:
– Sim.
– Entendi – Taichi falou calmamente, mas por dentro ele estava se repreendendo. Agora ele sabia que ela vinha apresentando sintomas de resfriado desde ontem, mas como ele não os tinha reconhecido na hora, ele arrastou Hikari para o mercado com ele para comprar coisas que eles levariam para o acampamento hoje (embora a lista de compras consistisse apenas de um monte de doces).
Ele pensara que ela estava agindo estranho, mas não achou que fosse por causa de um resfriado...
Deve ter começado ontem de manhã, quando eles estavam vendo TV juntos. Na hora, um plantão do jornal noticiou sobre o clima anormal em todo o mundo. Eram meados do verão, mas a América estava coberta com força por neve, enquanto chuvas pesadas inundavam o Oriente Médio. Em contrapartida, os pântanos no sudeste asiático estavam completamente secos sob o sol forte. O meteorologista disse que tudo isso era por causa da degradação ambiental, mas Hikari disse:
– Ele está errado.
– Eh? – Taichi, que tinha enchido as bochechas com torradas cobertas com ovos e fatias redondas de tomate e presunto, lançou um olhar de estranheza para Hikari.
Os olhos de Hikari permaneciam fixos na tela da TV, que não mostrava nada em particular até onde Taichi podia ver. Como se estivesse em transe, ela sussurrou uma palavra nem um pouco familiar.
– Digi... mon...
– Digimon? O que é isso? – Taichi perguntou com as sobrancelhas erguidas.
Dessa vez, Hikari desviou os olhos da tela para olhar para ele com os olhos arregalados.
– Você não consegue ver, maninho? – ela perguntou.
– Ver o que? – Taichi olhou para a tela da TV. – Eu não vejo nada.
– Ah... Deixa pra lá. Não se preocupe com isso – Hikari sorriu antes de virar o olhar de volta para a TV. Seus cílios longos, como Taichi olhou para sua irmã mais nova de perfil, a faziam parecer meio desolada para ele.
Ela provavelmente estava com febre, Taichi percebia agora. Se ele tivesse checado a testa dela antes e a deixado descansar, o resfriado poderia ter sido facilmente evitado logo no começo. Hikari esteve ansiando por essa viagem de acampamento tanto quanto ele esteve...

Em multidões barulhentas de pé diante dos ônibus alinhados em ordem de partida, as crianças se reuniam em seus grupos designados e conversavam sem parar sobre o anime que ela tinham visto ontem, o novo videogame que foi lançado, os desenvolvimentos na trama na última edição do mangá semanal, ou sobre o relacionamento romântico entre dois ídolos populares que tinha tido muita publicidade ultimamente na foto de alguma revista semanal.
Mas Yamato Ishida não se envolvia com nenhum desses grupos. Não era porque ele era solitário. Na verdade, muitos de seus colegas de classe o saudaram com um ‘Ei’ ou ‘Oi’ quando cruzavam com ele e, naturalmente, Yamato responderia de volta com um sorriso...
Um pequeno garoto usando um chapéu verde e uma camiseta de mangas longas da mesma cor da camiseta regata que Yamato usava estava de pé ao lado dele. Embora houvessem muitas pessoas que falavam com Yamato, nenhuma falava com o garotinho, e ele próprio nunca acenava saudando ninguém. Ele simplesmente ficava grudado ao lado de Yamato, enquanto olhava ao redor em silêncio, sorrindo amplamente para tudo em volta.
A situação era como devia ser, por esse garotinho não ser parte dessa escola, e portanto não conhecia nenhum dos alunos de lá. Ele era o irmão mais novo de Yamato, Takeru Takaishi O motivo porque eles tinham sobrenomes diferentes era porque os dois viviam separadamente, como resultado do divórcio de seus pais. Takeru podia participar da viagem de acampamento da escola de Yamato depois de receber uma autorização especial do Sr. Fujiyama, o professor encarregado da organização da viagem.
O próprio Takeru não parecia preocupado, mas Yamato estava secretamente ansioso que Takeru pudesse não ser capaz de ir junto com as outras crianças. Ele achava que as coisas seriam melhores se Takeru nunca tivesse vindo junto para começo de conversa. Tudo começou na primeira semana de julho, logo antes das férias de verão começarem. Como seus pais tinham chegado a um acordo a respeito de direitos de visitas depois do divórcio, Takeru tinha vindo passar a noite no apartamento de Yamato (e do pai deles) em Odaiba. Na época, os olhos afiados de Takeru tinham visto a data de primeiro de agosto no calendário, marcada em vermelho. Quando o pai dos meninos disse a ele que aquele era o dia da viagem de acampamento da escola, Takeru exclamou que ele queria ir também.
O pai deles claramente compartilhava dos mesmos sentimentos de temor que Yamato. Seus problemas eram maiores porque isso significava ligar para a ex-esposa e persuadi-la a concordar. Claro, embora ele reclamasse em alto e bom som que isso era um aborrecimento, sua expressão não fazia isso parecer assim. No dia anterior ao acampamento, que foi ontem, Yamato foi à residência da mãe em Sangenjaya buscar Takeru.
– Você deveria vir aqui de vez em quando brincar com ele – sua mãe falou um pouco envergonhada para seu primogênito enquanto enchia a mochila de Takeru com alguns lanches até parecer que a mochila iria se rasgar.
– Sim.
Mesmo Yamato achou que sua própria resposta curta soou fria.
– Você deveria – sua mãe repetiu alegremente, embora seu sorriso pareese forçado. Ela já sabia, mesmo antes dessa conversa, que Yamato nunca se voluntariaria para uma visita. Ciente da personalidade séria de Yamato, ela não duvidava que ele considerasse essa ação inócua como equivalente a trair seu pai.
– Ok, mamãe. Estou indo agora.
Com as coisas de Takeru embaladas, a mãe de Yamaot o acompanhou até o corredor da entrada do apartamento.
– Takeru, não cause muitos problemas pro seu irmão, está bem?
Sua palavras soavam como se ela estivesse deixando seu único filho sob a custódia de um estranho. Claro, ela não disse isso de má vontade. Mas Yamato não pôde deixar de murmurar: – Não importa se ele causar. Nós somos irmãos.



0 Comments
Disqus
Fb Comments

Nenhum comentário:

Postar um comentário