segunda-feira, 8 de julho de 2024

Digimon Adventure - Capítulo 1.2: Do Outro Lado da Aurora



Ao longo de toda a viagem de ônibus, Mimi Tachikawa estava tão absorta em fofocar com as amigas Taako e Mi que ela nem se importou em olhar a mudança gradual de cenário pela janela. Se você perguntasse a ela mais tarde sobre por quais pontos de referência o ônibus tinha passado no caminho para o Cânion Mikami, ela responderia que não tinha a menor ideia.
– Tudo bem, chegamos – A voz do Sr. Fujiyama era útil para ele durante as assembleias da manhã na escola, porque chegava a todo o auditório sem precisar de um microfone. Dentro do ônibus, porém, fazia os ouvidos de todo mundo doer.
– Os grupos aos quais vocês pertencem estão listados nos papéis que eu dei a você antes de sairmos. Seus líderes estão usando braçadeiras com o nomes deles, então procurem-os e fiquem com seu grupo. Depois disso, escutem o que seus líderes dizem a vocês. Isso é tudo.
Mimi olhou para os papéis em suas mãos. Escrito à mão com uma caneta de bico fino estava escrito ‘Grupo Kido (Líder: 6ª série, Jou Kido)’.
– Ei, você sabem quem é esse Kido? – Mimi perguntou a Taako, que estava sentada perto dela. Os pepéis de Taako tinham ‘Grupo Arihara’ escrito neles.
– Kido seria... – procurando pela janela, não demorou muito para Taako apontar. – Aquele ali!
O garoto para o qual ela apontava estava vestido de forma bem arrumada, com uma camiseta de gola aberta e vestes estudantis. Além dos óculos e da braçadeira que indicava que ele era o líder, ele trazia uma bolsa quadrada nos ombros escrita ‘Rações de Emergência’. Possivelmente ele também estava cheio da pesada responsabilidade que vinha com ser um líder, porque sua cara parecia um pouco rígida.
– Hmm... Ele não parece muito confiável – Mimi pensou, mas ela foi interrompida por Mi, que gesticulou para ela apressadamente dizendo: – Olha, olha!
Mi estava apontando para a frente do ônibus, onde um garoto vestindo uma camiseta laranja de manga longa estava a ponto de descer. Mesmo Mimi sabia quem ele era. Eles mal falavam um com o outro, mas era seu colega de classe, Koushiro Izumi. Mi queria que elas vissem o que Koushiro estava carregando nas costas – um laptop sem fio.
– Não é estranho ele trazer aquilo pro acampamento? – Mi zombou com uma risada, mas Mimi não riu. Ela simplesmente não via uma razão para rir.

– Ei, Sora!
Baixando os baldes vazios que segurava com ambos os braços, Sora parou de descer os degraus de pedra que levavam ao reservatório de água para ver a pessoa que a tinha chamado. Era Kenji, o alto-proclamado Yutaka Akita de Odaiba, que jogava como zagueiro no time de futebol de Sora.
– O que foi? – Sora perguntou a ele.
– Você sabe onde o Taichi está? Não consigo acha-lo em lugar nenhum.
– Não faço ideia – Sora disse abruptamente. – Estamos em grupos diferentes, então é claro que eu não vou saber onde ele está.
– Oh – Kenji assentiu em compreensão, mas resmungou em voz baixa enquanto subia as escadas. Por causa da boa coordenação de dupla que Taichi e Sora mostravam nos jogos de futebol, ele deve ter dado a impressão errada de que eles compartilhavam uma ligação telepática. Talvez ele achou que Sora usaria isso para fazer Taichi vir voando para vê-lo.
Quando chegou ao reservatório de água, Sora ligou as torneiras para encher os dois baldes. Um pequeno riacho borbulhava nas proximidades, mas devido às condições sanitárias que seus papéis apontavam especificamente (sublinhado com uma linha grossa e tudo) eles iriam usar a água do reservatório para cozinhar. Depois de encher os baldes até em cima, Sora agarrou um em cada mão e subiu a escadaria de pedra de volta. O peso dos baldes fazia parecer que seus braços seriam arrancados das articulações.
Normalmente essa tarefa seria deixada para os meninos, enquanto as meninas fariam um trabalho mais fácil (como cortar vegetais ou se juntar para fofocar em volta da fogueira). Porém, Sora não gostava dessas coisas. Como uma pessoa que normalmente nunca usaria uma saia se pudesse evitar, ela conscientemente negava sua posição como uma garota. Seus traços mais masculinos foram ainda mais reforçados depois que ela se juntou ao clube masculino de futebol.
Suor começou a se formar em sua testa e Sora baixou os baldes para enxuga-lo com o braço. Incomodada com o cabelo que caía em seus olhos, ela tirou o chapéu para arrumar as mechas bagunçadas. Livre do confinamento, seu cabelo curto apontava em direções estranhas.
Depois de posicionar o chapéu de volta ao seu lugar devido, ela se recompôs e disse: – Lá vamos nós.
Com o baldes novamente sob seu aperto, ela estava a ponto de continuar subindo as escadas quando notou Taichi acima dela, tirando uma soneca num galho de uma árvore grossa, com os braços atrás da cabeça.
– Taichi, o que você está fazendo aí em cima?
Sem se preocupar em mexer sua postura, Taichi simplesmente baixou a cabeça para olhar na direção de Sora.
– Nada – ele respondeu preguiçosamente.
Mesmo quando ela disse: – Kenji estava procurando você.
– Ah, ok – foi sua resposta vagarosa.
Deduzindo que Taichi estava escapulindo de suas tarefas por preguiça, Sora sabia que qualquer coisa que ela dissesse enquanto ele estivesse assim seria fútil. Então, ao invés disso, ela perguntou sobre algo que a esteve incomodando desde que chegaram lá.
– A propósito, eu não vi Hikari por aqui. – Sora tinha ouvido da própria Hikari que ela estava muito excitada com a viagem de acampamento.
– Sim... ela teve febre.
– Um resfriado de verão? – Sora perguntou simpaticamente.
– Acho que sim.
– Entendi. Isso é ruim.
– Sim... – Taichi perdeu a linha de raciocínio quando notou que algo branco estava flutuando diante de seus olhos.
O que é isso?, ele se perguntou, e estendeu a mão para o céu. Sentindo um formigamento gelado nas costas na mão, ele a recuou e viu uma gota de água em sua pele. Podia ser difícil de acreditar, mas era neve.
–Ei. Está nevando – Taichi gritou para Sora abaixo dele, mas ela já tinha notado. Uma rajada de vento, fazendo grandes flocos de neve rodarem ferozmente atrás de Taichi, tinha lhe chamado a atenção.
– Parece que vai ser uma nevasca – Sora gritou para ele. – Vamos voltar logo para junto dos outros!

– Eu não acredito nisso.
Olhando para pra fora da janela do pequeno santuário em que ele tinha se escondido, o cheiro de madeira apodrecida fazendo cócegas em suas narinas, Koushiro Izumi sussurrava para si assombrado. A tempestade súbita de neve tinha obscurecido o verde do verão com um branco que ofuscava a vista.
– Deve ser por causa do clima anormal que estamos tendo.
Resignando com o fato de que seria incapaz de deixar aquele lugar por um tempo, Koushiro abriu seu laptop da Pineapple em seu colo e esperou ele ligar enquanto o conectava ao seu telefone celular.
O sistema operacional do laptop abriu. Com uma facilidade que mostrava que ele estava acostumado a fazer isso, ele clicou no ícone do navegador de Internet e tentou conectar ao motor de busca que ele tinha favoritado. Ele queria checar a homepage com as últimas informações da previsão do tempo.
O som do modem, e então a discagem do celular, podia ser ouvido naquele silêncio. Todavia, os sons que sinalizavam que ele estava conectado à Internet não vieram.
– Essa tempestade deve estar interferindo na recepção.
Porém ele era incapaz de desistir. Quando ele estava prestes a tentar conectar de novo, a porta deslizante do santuário abriu e dois meninos correram para dentro, suas cabeças cobertas de neve.
Sem perceber conscientemente o que estava fazendo, Koushiro deve ter encarado os intrusos por entrar sem bater e pisar no chão sem tirar os sapatos, porque o mais alto, e obviamente mais velho, dos dois meninos se desculpou.
– Me desculpe – Era Yamato. – Podemos ficar aqui até que a neve pare?
– Eu não me incomodo – Koushiro respondeu educadamente, mas um pouco confuso.
– Obrigado – Yamato disse, antes de se virar para sacudir a neve que cobria as roupas e o chapéu de Takeru.
Conforme a neve continuava a cair sem sinal de parar, outras crianças chegaram ao santuário em busca de abrigo.
O mais velho, usando a braçadeira de líder, Jou Kido.
A colega de classe de Koushiro, Mimi Tachikawa.
Sora Takenouchi.
E, alguém que Koushiro só conhecia por causa do clube obrigatório da escola que os dois faziam parte, Taichi Yagami.
Naquela hora, nenhuma daquelas crianças teria imaginado que as sete pessoas reunidas ali logo se veriam envolvidas em uma longa, longa aventura.

A tempestade de neve parou gradualmente.
Ao sair do santuário, as crianças se viam incapazes de esconder sua perplexidade conforme observavam a paisagem de neve que parecia incompatível com o céu azul do verão.
– Eba – com um grito de entusiasmo, Takeru se jogou na neve e juntou uma boa quantidade para formar uma bola. – Ei, irmãozão. Nós podemos fazer uma briga de bola de neve!
– Eu... acho que podemos – Yamato disse suavemente enquanto observava atentamente seu irmão mais novo e fofo. Perto dele, uma voz interrompeu.
– O que diabos está havendo aqui? – Taichi perguntou. A questão não era dirigida a alguém em particular. Taichi tinha o mal hábito de frequentemente dizer o que estava pensando.
Inconsciente disso, Jou levantou a cabeça para olhar o céu. Empurrando os óculos, ele explicou: – Provavelmente havia uma massa de ar frio no céu que fez nevar. Talvez tenha viajado para cá desde a América.
–Hmmm – Mimi disse, parecendo impressionada. – Você deve ser muito esperto ,Jou.
– Oh, não é pra tanto – Jou disse modestamente, embora seu rosto mostrasse mais do que apenas um pouco de orgulho. Observando-o, Taichi decidiu que eles não se dariam bem. A pele de Jou tinha um tom pálido de doente, mesmo que fosse o meio do verão. Ele deve ter ficado tão absorto com o cursinho que não foi nadar numa piscina sequer uma vez o verão inteiro.
– De qualquer modo, Jou – Yamato disse. A razão para tê-lo tratado tão casuamente era porque ele achava que os dois estava na mesma série. – A tempestade já passou?
– Sim, passou. Está vendo que não há mais nuvens no céu? Não importa quão frio esteja, a neve não vai se formar sem nuvens. É senso comum – Jou falou orgulhosamente sem parar, antes de se dar conta disso. – Ah... hmm, Eu não quis dizer que vocês não tem senso comum. Não entendem errado.
Seu pedido de desculpas soou fraco e ele sabia disso. Vendo como as sobrancelhas de Yamato se franziam por um segundo numa expressão irritada, Jou sabia que ele tinha estragado tudo.
– Ei, a propósito – disse Takeru, que estava no meio de fazer um boneco de neve. Ele parou de mexer na neve para apontar para o céu. – O que é aquilo? Não é uma nuvem, é?
Todo mundo olhou para cima.
Uma enorme cortina transparente brilhava como um arco-íris. Como uma bolha de sabão que flutuava gentilmente acima deles.
– Aquilo é... uma aurora? – Sora perguntou, seus olhos arregalados de descrença. – Ser capaz de ver uma aurora no Japão é...
De repente, algo inacreditável aconteceu, um espetáculo misterioso que atraiu a atenção de todo mundo. Naquele exato momento, dentro da aurora, algo começou a brilhar. Não estava vindo de uma fonte única, mas de muitas. Pensando que seus olhos o enganavam, Taichi os fechou e abriu de novo. As luzes estavam ainda estavam lá. E elas não estavam desaparecendo aos poucos, mas brilhando mais e mais forte. Não demorou muito para Taichi perceber que era porque aquelas luzes estavam vindo na direção deles.
– Tem algo vindo!
Sora e Yamato também notaram. – São bolas de luz! São meteoritos?
Mesmo Mimi e Jou, com sua visão fraca, foram capazes de ver as luzes se aproximando mais e mais. Eram sete esferas de luz ao todo.
– Cuidado!
Todos se abaixaram para se proteger. Yamato se jogou por cima de Takeru para protegê-lo.
BANG!
A força do impacto fez um pilar de nove de mais de dois metros se altura se levantar. Só dava para se imaginar a quantidade de poder por trás daquilo tudo. Felizmente, nenhuma das crianças se machucou.
– Isso foi assustador – Mimi disse ao se levantar. Seu rosto, porém, não era tão pálido quanto o de Jou, que estava de pé perto dela. De fato, ela parecia ligeiramente animada, como se a coisa toda tivesse sido um acidente.
– Mas o que foi isso? – Atraído pela curiosidade, Koushiro correu para o lugar de onde o pilar de neve tinha se erguido. Os misteriosos objetos que caíram tinham afundado na sujeira, formando grandes buracos na camada de neve acima do solo.
Koushiro estava prestes a enfiar a mão em um dos buracos quando, com um grito, ele virou para trás.
Um raio de luz suave subiu de dentro dos buracos, e algo saiu flutuando deles. Havia sete coisas ao todo.
– O-o que é isso? – Taichi perguntou, sua voz subindo em um tom histérico.
Os sete objetos desconhecidos, que emitiam luz tão suave quanto o véu de seda e uma noiva, voaram individualmente para as mãos de cada uma das crianças.
– Isso é...
Era o pedaço de algum equipamento com uma tela, parecido com um pager. Na superfície, dava para ver particular de luz criando uma névoa de cores.
Todas as sete coisas começaram a apitar furiosamente.
No instante em que isso aconteceu, a aurora acima deles começou a tremeluzir violentamente, como uma cortina sendo aberta agressivamente por uma tespestade.
– É por causa das ondas eletromagnéticas? – Koushiro murmurou para si mesmo, mas mesmo ele sabia que era uma hipótese sem embasamento.
O tremeluzir da aurora ficou mais agressivo, parecendo como se ela estivesse se arrancando do céu e fosse voar para longe a qualquer momento. A própria superfície do céu começou a brilhar intensamente.
Ao mesmo tempo, algo impossível aconteceu.
Mesmo que as crianças estivessem em uma montanha alta, acima o suficiente do nível do mar, a água explodiu e subiu, crescendo verticalmente para mostrar sua grande superfície suave. Seu centro se partiu, revelando a entrada da água, como se uma grande cachoeira corresse ali. COm um rugido trovejante, ela sugou o ar ao redor. A atmosfera frias não estava sendo puxada para baixo, mas para algum lugar paralelo ao chão.
E então...
– Uwaaaaaah!
Cercadas por uma força para a qual elas não eram páreas, as sete crianças foram sugadas para dentro.



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